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    Lee Ranaldo prepara disco acústico e descarta retorno do Sonic Youth

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    24/09/2015 09h30

    Lee Ranaldo gosta de desenhar as estradas por onde viaja. E os caminhos que trazem o ex-guitarrista do Sonic Youth a São Paulo acabaram se tornando marcos importantes de sua vida nos últimos anos: foi aqui o último show da história do Sonic Youth, no festival SWU, em 2011.

    Também foi em São Paulo que encerrou a turnê de seu primeiro álbum solo, em 2013, E será aqui onde, no sábado (26), mostrará em um show gratuito pela primeira vez as músicas de seu terceiro trabalho depois do rompimento da banda, previsto para o início de 2016.

    Quem for ao show neste sábado, no Largo da Batata, pode sair surpreendido: deverá ver momentos de um Lee Ranaldo mais acústico.

    Célebre pelas experimentações (tortuosas) com guitarras tanto no Sonic Youth como em sua trajetória solo, ele diz estar se redescobrindo desplugado. Quando entra no estúdio para gravar, descarrega as influências de violões, absorvidas da música espanhola. "Vai ser diferente de tudo o que já fiz", conta.

    Leia, abaixo, trechos da entrevista do músico à Folha.

    Lorezno Scaldaferro/Divulgação
    O músico Lee Ranaldo, ex-guitarrista do Sonic Youth, em Padova CRÉDITO: Lorezno Scaldaferro/Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O músico Lee Ranaldo, ex-guitarrista do Sonic Youth

    Folha - O que o público de São Paulo vai ouvir em seu show?

    Lee Ranaldo - Estamos sempre tocando, principalmente, canções do meu primeiro álbum e outras do segundo. Desta vez, as pessoas vão ouvir mais as músicas do meu segundo álbum, e talvez algumas do terceiro. Estou há um ano em estúdio, trabalhando nele, e fazendo alguns shows realmente solo. Me apresentei algumas vezes em versão acústica, mas esse show em São Paulo será o primeiro com banda em dez meses, então estou realmente animado.

    São Paulo parece ser um lugar místico para você. Foi aqui (no festival SWU, em 2011) que o Sonic Youth fez seu último show, foi aqui que você encerrou a turnê de seu primeiro álbum ("Between The Times & The Tides"). E agora mostrará as primeiras novas músicas aqui...

    É uma cidade muito acolhedora. Tem razão, é muito interessante nesse sentido. Adoro ir ao Brasil.

    Ouça "Off The Wall", de "Between The Times & The Tides

    Between the times and the tides

    O que será o novo disco? O segundo, "Last Night on Earth", foi escrito sob as consequências do furacão Sandy (que atingiu Nova Iorque e Nova Jersey em 2012) e tem uma atmosfera meio apocalíptica —o que vem depois do apocalipse?

    Não sei O álbum não era tanto apocalíptico, apenas algumas canções eram diretamente ligadas ao furacão. Desde então, tenho explorado um montão de coisas diferentes, fazendo sons acústicos. E isso, de alguma maneira, é algo que eu sempre sonhei em fazer e jamais consegui. E estou aproveitando demais, é um novo desafio tocar desplugado, sem muito barulho ou coisas assim.

    Esses shows definitivamente estão influenciando a música que estou fazendo no meu terceiro disco. Algum tempo depois de ter ido a São Paulo em 2013, fizemos um disco acústico, gravado na Espanha. Saiu por um selo de lá. Conheci um produtor espanhol que está trabalhando comigo agora, então estamos começando o novo disco com muita influência acústica, de violões da Espanha e de batidas eletrônicas, usando sampler. Vai ser muito diferente de tudo o que já fiz. Ainda não tenho certeza se vamos tocar [no domingo], mas espero que sim.

    Deve sair entre março e abril de 2016, não tenho a data. Certamente será na primavera.

    Ouça "Lecce, Leaving", do álbum "Last Night on Earth:"

    Lecce, Leaving

    Você também é assunto de um documentário agora, "In Doubt, Shadow Him!", previsto para dezembro próximo. Tem a ver com o disco?

    Não, são projetos diferentes. O documentário foi rodado em dezembro de 2014, antes do disco acontecer e terminou quase que imediatamente antes de começar a gravar o disco.

    Pode falar sobre o documentário, o que será exatamente?

    Ele está sendo feito por amigos meus do sul da França. A ideia é que eles fossem a Nova York, caminhássemos juntos pela cidade, encontrássemos alguns amigos meus, artistas, músicos diferentes.

    veja o trailer de "In Doubt, Shadow Him!"

    Pode dizer alguns nomes?

    Bem, o artista Dan Graham... Muita gente diferente, como uma garota chamada Sarah Register, de uma banda muito legal chamada Talk Normal. Céus, nem me lembro direito. Mas são basicamente conversas entre artistas de vanguarda e eu. Acho que a ideia era refletir aspectos meus e com outras pessoas que conheci em Nova York.

    Como é ser o assunto de alguma coisa, como o filme?

    Já fizeram alguns documentários sobre o Sonic Youth, então já me acostumei a essa ideia, de alguma maneira. Sabe, não é louco. É interessante, diria, estar desse lado das coisas. Não é como um álbum ou uma arte que eu esteja produzindo.... Eu, na verdade, sou a obra.

    Vem em um momento em que você está estabelecendo definitivamente sua carreira para além do Sonic Youth.

    É um momento interessante para fazer o documentário, alguns anos depois do fim do Sonic Youth e depois de eu ter lançado alguns álbuns. Eu tinha uma carreira solo quando o Sonic Youth estava acontecendo, mas agora é diferente, já que a banda não existe mais. Então, é legal ver um documentário nesse caminho.

    Um disco é como um cartão postal de um momento da sua vida. E é o mesmo que acontece com filmes. Como artista, você espera que seu trabalho dure por toda a vida. Essas coisas são como pequenas janelas, sobre o que eu estava fazendo em dezembro de 2014. E o novo disco é uma janela para o que eu estava pensando em 2015.

    Como é o seu cartão postal hoje, você pode descrever?

    Meu cartão postal certamente teria muitos violões. E estou fazendo artes em vídeo, desenhos e pinturas. Assim que o álbum sair, vou trabalhar duro no inverno em novas pinturas para uma exposição no ano que vem.

    Onde, em Nova York?
    Sim, e depois para uma galeria na Bélgica. São desenho de paisagens, estradas, já que viajar é boa parte do meu trabalho musical.

    Lee Ranaldo/Reprodução
    Desenho de estrada feito por Lee Ranaldo ---ele diz que não saberia localizar geograficamente suas obras
    Desenho de estrada feito por Lee Ranaldo —ele diz que não saberia localizar geograficamente suas obras

    Em 2016, você se dedicará à divulgação do novo álbum, imagino.

    Certamente, terá os mesmos músicos, mas será mais acústico Não sei ainda. Quando toco nesse formato, i show é menor, intimista. As pessoas se sentam e ouvem, não é como uma atmosfera do rock. Mas para mim, agora, tem sido bem interessante, fazer essa mudança. Quem sabe? Vamos ver o que rola.

    Então, ao menos até o fim do ano que vem, um retorno do Sonic Youth está fora do seu horizonte.

    Exatamente. Totalmente fora de cogitação. Ninguém está pensando num retorno ou algo assim. Certamente não vai acontecer neste ou no próximo ano.

    Por que quando a banda acabou de fato, ficou algo meio em aberto...

    Obviamente tinha algumas questões naquela época. Agora, todo mundo está feliz com sua própria carreira. Não sei se isso vai realmente acontecer.

    Por falar em Sonic Youth, leu a biografia da Kim Gordon ("A Garota na Banda", o livro da ex-baixista e vocalista da banda, editada no Brasil pela Fábrica 231)?
    Sim, li.

    Gostou?
    Acho que ela fez um bom trabalho. Adorei o capítulo em que ela fala sobre crescer na Califórnia.

    LEE RANALDO & THE DUST
    QUANDO sáb. (26), a partir das 19h
    ONDE Largo da Batata, s/nº
    QUANTO grátis

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