• Ilustrada

    Sunday, 19-May-2024 09:29:46 -03

    Crítica: Mesmo com tom romântico em exagero, 'Cativas' é trabalho corajoso

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    28/09/2015 02h01

    Quem passa na frente de um presídio no fim de semana enxerga a cena: serpenteando muros, mulheres, carregando sacolas, constroem uma enorme fila para aguardar a hora da visita.

    A cineasta Joana Nin fez um documentário sobre elas. "Cativas - Presas pelo Coração" trata das angústias, sonhos e frustrações dessas personagens que se prendem às histórias de presidiários.

    Divulgação
    Carta escrita por preso à mulher em cena do filme 'Cativas - Presas pelo Coração', de Joana Nin
    Carta escrita por preso à mulher em cena do filme 'Cativas - Presas pelo Coração', de Joana Nin

    Elas pouco falam de crimes. Emocionadas, leem cartas saídas da prisão, contam sobre como o romance começou, expõem planos de uma idílica vida familiar no futuro. São pobres, algumas de classe média baixa, que se desdobram entre o trabalho e a preparação para o encontro com o amado.

    As entrevistas, muitas feitas nas casas simples de subúrbio, já revelam o perfil dos encarcerados brasileiros. Mas o filme não vai por esse caminho: o foco são os sentimentos, o romantismo, a longa espera que enreda as mulheres.

    Nessa busca, mostra audácia ao escarafunchar a vida sentimental de suas personagens. Uma delas resiste a mostrar as cartas do ex. A cineasta insiste, e a senhora cede, um pouco contrariada. Encontra os escritos numa mochila no fundo de uma caixa.

    A diretora consegue o que quer, mas a cena deixa uma sensação de invasão de privacidade. Essa sensação aumenta em outros pontos da fita, que chega a entrar nos quartos fechados da visita íntima.

    Há um bisbilhotar talvez exagerado. Talvez encenado. Carregando microfones e sabendo que serão ouvidos por outros, mulheres e homens agem com autenticidade?

    A câmera é instalada numa cela. O que se vê são dois presidiários falando sobre a redação de mensagens, sobre figuras de flores nas cartas. Na cena seguinte, a carta, com uma rosa desenhada, chega a seu destino via Sedex.

    Como numa visita guiada, o documentário mostra prisões relativamente arrumadas, funcionários prestativos e filas que andam. Não há superlotações e, no pátio, existe espaço para encontros com alguma privacidade. A revista íntima surge como marca humilhante na vida dessas mulheres.

    Mesmo com um tom às vezes invasivo e romântico em exagero, "Cativas" é um trabalho corajoso e provocativo. Afinal, as filas que marcam os presídios masculinos não se repetem nas cadeias femininas. Há algo para investigar.

    CATIVAS
    DIREÇÃO Joana Nin
    PRODUÇÃO Brasil, 2013, 12 anos
    QUANDO em cartaz
    AVALIAÇÃO bom

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024