Roger Waters tinha 36 anos quando, em 1979, fez "The Wall" com Bob Ezrin, David Gilmour e James Guthrie, um dos mais influentes e mais vendidos álbuns da banda inglesa Pink Floyd.
Waters não para e, 36 anos depois, revive as emocionantes letras e as memoráveis cenas de fantasias do longa "Pink Floyd The Wall", dirigido por Alan Parker em 1982.
Desta vez o filme é uma bem cuidada edição da turnê "Roger Waters "" The Wall" (2010-2013), que passou pelo Brasil e foi vista no mundo por mais de 4 milhões de pessoas.
Um avião avança sobre o público. É o começo da ópera-rock com reminiscências da Segunda Guerra Mundial e de tragédias recentes.
É Waters quem conduz o enredo do filme. Num cenário manchado pelo sangue da iluminação avermelhada, caminha pelo palco com sapatos brancos, sugerindo paz.
Odd Andersen/AFP | ||
Waters em show da turnê "The Wall" em Berlim |
Pessoas de todo o mundo que foram vítimas do terror ou de ações desastrosas de autoridades políticas e policiais surgem no telão. Entre eles, o brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia de Londres no metrô, confundido com um terrorista
Quem presenciou algum dos shows da turnê se surpreende no filme com o drama familiar do músico inglês, apenas sugerido no palco, mas escancarado na tela.
No longa, Waters entra em um cemitério e toca uma corneta cujo som marca o adeus a soldados mortos em combates. Entre as lápides, aparecem as do avô, que morreu na Primeira Guerra, quando o pai de Waters tinha dois anos, e também a de Eric Fletcher Waters, pai do músico, morto na Segunda Guerra, quando o cantor tinha cinco meses.
Efeitos visuais e sonoros, uma das marcas do espetáculo, estão mantidos. São fortes e chocantes e guiam sobretudo a solidariedade às vítimas das guerras, da fome, da loucura de mandatários obcecados pelo poder, do apartheid.
Consagra o que os shows da turnê apresentaram: flashes sobre acontecimentos históricos mostrados em animações computadorizadas, cujos movimentos são determinados pela música.
Na plateia, o público jovem chama a atenção. São fiéis ao trabalho de Waters, que em 1965, com os colegas Syd Barrett, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright, fundou o Pink Floyd.
"Roger Waters - The Wall" é uma produção para fãs e para não fãs de Waters e do Pink Floyd, dissociados no papel, mas não na essência.
A produção prende a atenção, faz refletir, assusta, constrange, leva a sentir vergonha alheia, faz chorar os sensíveis. A edição e as montagens são impecáveis. E a trilha sonora... Estamos falando de "The Wall", álbum que consagrou o Pink Floyd e Waters.