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    Mostra revela obras inéditas de artista plástico Fernando Zarif

    NINA RAHE
    DE SÃO PAULO

    29/09/2015 20h22

    O artista plástico paulistano Fernando Zarif não mostrava à família as obras que produzia. Ivan, seu irmão mais novo, encontrava algumas peças à vista quando ia visitá-lo. Se gostava, pedia, mas Fernando fazia jogo duro, dizia que ia pensar, e só depois o presenteava com o objeto.

    Diferentemente do caçula, o artista -morto aos 50 em 2010 em decorrência de uma cirrose e agora foco de uma mostra individual na galeria Luciana Brito, em São Paulo- nunca quis um emprego na fábrica têxtil da família. Do tempo em que foi obrigado, sua mãe, May Zarif, conta que ele permanecia de braços cruzados, literalmente, até vencer o pai pelo cansaço.

    Ivan achava que o irmão não trabalhava, que devia ter cerca de 50 ou cem trabalhos produzidos. Não acreditou quando soube que a catalogação das obras, que teve início um ano após sua morte, havia chegado a 2.000 peças.

    A consultora de arte Cristina Candeloro, uma das responsáveis pela restauração do trabalho do artista, estima que ainda há 1.000 obras pela frente, entre desenhos, pinturas, fotografias e esculturas. Ela investiga anotações e conversa com amigos do artista, que também compôs músicas com Paulinho Moska e Branco Mello.

    No apartamento onde Fernando viveu, no Itaim Bibi (zona oeste de São Paulo), a consultora encontrou relativa ordem, com jornais da época guardados, materiais divididos entre diversas caixinhas e cadernos dentro de pastas.

    Ivan, de novo, se surpreendeu. Fernando era do tipo que deixava pendente até mesmo a escritura do apartamento que ganhou para que ele e o pai resolvessem -declarações de imposto de renda também ficavam para os dois.

    O artista participou de sua primeira mostra aos 21 anos, na Pinacoteca de São Paulo, mas não chegou a atingir em vida, entre individuais e coletivas, nem 20 exposições.

    O motivo, amigos e familiares supõem: "Ele tinha um gênio do cão, conseguia brigar com muitos marchands", diz a mãe. "Fernando não administrou uma carreira, não se preocupava com isso. Ele se prendeu à produção", diz André Millan, marchand de um das galerias que o representa.

    Talvez ele também soubesse que, tal qual seu imposto de renda, alguém arranjaria as exposições que deixou para trás. Antes de morrer, Fernando pediu à mãe que cuidasse dos gatos e das obras.

    FERNANDO ZARIF: ANTES DE COMEÇAR TERMINO
    QUANDO ter. a sex., 10h às 19h, sáb., 11h às 18h; até 31/10
    ONDE Luciana Brito Galeria, r. Gomes de Carvalho, 842, tel. (11) 3482-0634
    QUANTO grátis

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