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    Cildo cria obra idealizada em 1969 cuja ideia é aumentar a altitude do país

    NINA RAHE
    DE SÃO PAULO

    03/10/2015 02h54

    Em 1969, o artista carioca Cildo Meireles estendeu uma linha industrial em um percurso de 30 km da estrada que liga Paraty a Tarituba, no Rio de Janeiro, depois a recolheu e colocou o emaranhado de fios dentro de uma mala.

    O trabalho, "Cordões/30 km de Linha Estendidos", faz parte da série para a qual Cildo deu o título de "Arte Física". Segundo ele, um nome genérico para ideias que colocavam em um mesmo arcabouço fronteiras, pontos extremos, cordas e cachoeiras, e necessitavam de esforço físico para desenvolvê-las.

    Documentados por um conjunto de desenhos e colagens, muitos dos projetos que surgiram a partir desse conceito não chegaram a ser realizados. Um deles, no entanto, por sugestão dos curadores Aracy Amaral e Paulo Miyada, acaba de sair do papel para integrar o 34° Panorama de Arte Brasileira, que abre neste sábado (3) no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

    Edouard Fraipont
    Cildo Meirelles, obra Arte Física Crédito Edouard Fraipont ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Ianomâmis na trilha em direção ao Pico da Neblina, no norte do Amazonas

    Intitulada "Fronteiras Verticais", a obra consiste em elevar a altitude do país, retirando uma pedra de 1 cm do cume do Pico da Neblina ""ponto mais alto do país, localizado no norte do Amazonas, com 2.994 metros de altitude"", e colocando em seu lugar outra pouco maior de 2 cm.

    Durante a montagem da exposição, quando a Folha perguntou sobre a obra, Cildo apontou para Edouard Fraipont, dizendo que o fotógrafo e também artista era quem poderia falar mais sobre a realização dela.

    TRILHA ÁRDUA

    Quase 50 anos depois da ideia inicial –o artista tinha 21 quando pensou no projeto­­–, ele incumbiu Fraipont, que já o havia auxiliado na documentação da escultura sonora "rio oir", em 2011, de realizar a empreitada.

    "Depende de performance física, que essa altura já não tenho condições de realizar", explica Cildo, aos 67 anos.

    Após série de negociações para obter autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBio, e dos representantes do povo ianomâmi –que habita a região"", Fraipont iniciou a expedição de dez dias com orientações para registrar a ação de ângulos próximos e distantes.

    Ele foi acompanhado do assistente Miguel Escobar, e seis ianomâmis, entre os quais estava um guia e cinco ajudantes que se encarregaram das bagagens

    O mais difícil foi o percurso, que precisou ser realizado com o auxílio de corda em vários momentos.

    Edouard Fraipont
    Cildo Meirelles, obra Arte Física Crédito Edouard Fraipont ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Pedra que foi colocada no cume para obra de Cildo Meireles

    A instalação da pedra foi feita com cera de abelha e resina extraída de uma árvore –o desenho de 1969 está agora no MAM ao lado de vídeos e fotos da ação.

    Cildo conta que tem vontade de retomar mais dois projetos dessa mesma série. Em um deles, a ideia é movimentar uma canoa em sentido horário no eixo imaginário da terra, no polo norte. No outro, a mesma ação seria repetida no polo sul, movimentando o barco em sentido anti-horário.

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