Gigi Hadid, 20, tem 86 cm de busto, 64 cm de cintura e 90 cm de quadril. Mesmo com medidas invejáveis, a modelo californiana foi chamada de gorda nas redes sociais. As críticas viraram um escarcéu virtual e fizeram a top se defender. "Sim, tenho peito, abdômen, bunda e músculos", disse em sua conta no Instagram.

Mas Hadid é uma das poucas modelos das semanas de moda com padrão curvilíneo. Na temporada de verão 2016, o comentário nos bastidores da semana de moda de Paris é como manequins estão excessivamente magras, esquálidas até para o padrão esbelto da passarela parisiense.

Grifes como Saint Laurent, Céline, Christan Dior e Giambattista Valli apostaram na magreza desmedida. Meninas belgas, francesas e holandesas estão entre as preferidas. Muitas delas são menores de idade, o que faz seus corpos não desenvolvidos acentuarem o aspecto cadavérico pretendido pela indústria.

	Charles Platiau/Reuters
	Mathilde Brandi, em desfile para a Céline, foi uma das modelos que causaram estranheza

"Elas estão tão magras que parecem estar mortas", afirma a editora da revista francesa WAW, Shari Virton, 30, uma das poucas profissionais a falarem abertamente sobre o assunto. "Ninguém na moda está interessado em mudar qualquer coisa."

Já a stylist Rosie Neiman afirma que hoje as modelos ou são excessivamente magras ou "plus size", eufemismo fashion para "gorda". "Não há mulheres reais em desfiles ou em campanhas", diz.

O auge da desconexão entre o consumidor e o idealizado pela indústria foi uma campanha da grife Saint Laurent em que a modelo holandesa Kiki Willems, 18, traz o corpo deformado pela magreza (veja galeria abaixo). Publicada em junho numa revista britânica, a foto foi banida por autoridades do Reino Unido por exibir um padrão excessivamente magro.

MUDANÇA FORÇADA

Em Paris, deve ser votado nos próximos dias, em caráter terminativo, um projeto de lei que tramita desde março e é visto como um divisor de águas na moda francesa.

O deputado socialista Olivier Véran conseguiu que a Câmara dos Deputados aprovasse uma emenda à Lei Nacional da Saúde que obriga as agências francesas a contratarem apenas garotas com o IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 18, um número limítrofe para definir se uma mulher de 1,75 m é saudável.

Após o senado sugerir revisões no texto, alegando que é preferível estimular a realização de exames para constatar a saúde das modelos e não apenas se basear no IMC (índice de massa corporal), o texto está novamente nas mãos dos deputados.

O apoio da ministra da Saúde, Marisol Touraine, que disse à imprensa ser importante "as modelos comerem e cuidarem do corpo" para servir de exemplo a meninas que "as olham como um padrão ideal de beleza", sinaliza uma possível aprovação da emenda.

Se o texto for aprovado, a agência e a marca que contratarem a modelo magra demais poderão pagar multa de R$ 370 mil e ser punidos com seis meses de prisão. Ainda não está claro a quem caberá fiscalizar as contratações.

Alheias ao imbróglio, modelos usam o discurso "sou assim desde que nasci".

A belga Kirkin Dejonckheere, 17, que fez sua estreia em Paris na passarela da Christian Dior, afirma que "a magreza é algo bom, mas que a saúde também". "Ser magra tem de ser algo natural. Minha agência [em Paris, a Supreme] cuida bem de mim". Ela, que diz ser saudável, tem 57 cm de cintura e 88 cm de quadril distribuídos em 1,77 metro.

	Etienne Laurent/Efe
	"Sim, tenho peito, bunda, abdômen e músculos", escreveu Gigi Hadid em rede social; ela desfila para a Elie Saab