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    Única peça de Milan Kundera tem sua primeira adaptação brasileira em SP

    GABRIELA MELLÃO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    09/10/2015 02h53

    Milan Kundera dedicou-se uma única vez ao teatro. Em 1971, cerca de uma década antes de escrever seu romance mais célebre, "A Insustentável Leveza do Ser", aventurou-se pela farsa em "Jacques e Seu Amo".

    A experiência pode ser conferida pela primeira vez no país a partir desta sexta-feira (9), quando estreia uma montagem da peça, com direção de Roberto Lage.

    Trata-se de uma adaptação do autor tcheco a um dos romances mais populares do século 18, "Jacques, o Fatalista, e seu Amo", do francês Denis Diderot. "Há 15 anos quero montar esse texto, que condensa a obra original mantendo toda a sua essência", afirma o diretor.

    A comédia mostra o comportamento politicamente incorreto de Jacques e seu amo. Mais do que criado e patrão, são parceiros. O primeiro tem influência. O segundo, poder.

    A dupla, vivida por Hugo Possolo (Jacques) e Edgar Bustamante, conta suas desventuras enquanto viaja não se sabe de onde e nem para onde. Sensibilidade não os falta, mas, como eles mesmo dizem, preferem guardá-la para ocasiões especiais. "Aqueles que desperdiçam sensibilidade a torto e a direito ficam sem quando precisam", defende Jacques em cena.

    "Jacques parte do arquétipo clássico do serviçal que se sobrepõe ao amo pela astúcia. Representa a inteligência popular, e seu espírito de sobrevivência se contrapõe à polidez dos nobres", diz Possolo.

    Encontros e desencontros amorosos são narrados e revividos em ritmo acelerado, na medida em que a dupla se depara com uma série de personagens ao longo do caminho, entre eles uma taberneira tagarela e a Marquesa da Pommeraye (ambas interpretadas por Renata Zhaneta).

    A incursão de Kundera no teatro tem o claro objetivo de entretenimento. Mas, como na obra de Diderot, diversão não desvalida reflexão.

    Kundera quebra constantemente a ação, muitas vezes para rir de si mesmo –os protagonistas questionam sucessivamente o talento do autor. O restante da humanidade também não sai ileso.

    Se em "Jacques, o Fatalista, e seu Amo" Diderot faz um retrato das relações sociais em transformação na França pré-revolucionária, em sua versão da obra Kundera sublinha a hipocrisia e o individualismo exacerbado do homem.

    Possolo serve-se de Jacques para "enfrentar o moralismo tacanho que não compreende a importância da arte na mudança dos valores na sociedade".

    Zhaneta complementa: "Estamos vivendo tempos de tantas contradições e tapamos os olhos para tudo em nome de um 'politicamente correto' que leva para onde?".

    Como diz Jacques ao seu amo em cena: "O senhor sabe para onde vamos?"

    JACQUES E SEU AMO
    QUANDO qui. a sáb., às 20h, dom., às 19h; até 13/12
    ONDE Centro Cultural Banco do Brasil, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651
    QUANTO R$ 10
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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    RAIO-X O escritor Milan Kundera

    1º.set.2014/Efe
    GRA204. MADRID, 01/09/2014.- Fotografía facilitada por la editorial Tusquets del escritor checo Milan Kundera cuya última novela "La fiesta de la insignificancia" sale mañana a la venta. "La fiesta de la insignificancia" es la cuarta novela del escritor checo escrita en francés. Una novela muy esperada, ya que desde "La ignorancia", publicada en 2002, el autor de "La insoportable levedad del ser" no había publicado nada. EFE ***SÓLO USO EDITORIAL*** ORG XMIT: GRA204
    O escritor tcheco Milan Kundera

    Idade: 86 anos

    Nacionalidade: Tcheco (Brno, na antiga Tchecoslováquia), nacionalizado francês em 1981

    Livros importantes

    > "A Vida Está em Outro Lugar" (1973)

    > "O Livro do Riso e do Esquecimento" (1978)

    > "A Insustentável Leveza do Ser" (1984)
    Seu livro mais famoso, foi publicado em 68 países e virou filme com Juliette Binoche e Daniel Day-Lewis em 1988. No Brasil, foi publicado em 1985 pela Nova Fronteira; hoje é editado pela Companhia das Letras

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