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    Crítica:

    'Dois Casamentos' inverte as idealizações sobre matrimônio

    ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    12/10/2015 02h43

    Expoente do cinema experimental que floresceu no Brasil entre o fim da década de 1960 e a seguinte, o carioca Luiz Rosemberg Filho passou os últimos 30 anos fazendo curtas e trabalhos em vídeo. O filme "Dois Casamentos" marca sua volta ao longa-metragem.

    Da mesma geração de Rogério Sganzerla (1946-2004), Julio Bressane e Andrea Tonacci, Rosemberg ganhou notoriedade junto a uma parte da crítica com filmes provocadores, pouco convencionais na forma, radicalmente poéticos e políticos.

    Exemplos como "Jardim das Espumas" (1970), "Assuntina das Amérikas" (1976) e "Crônica de um Industrial" (1978) sofreram com a censura e com dificuldades de distribuição.

    Divulgação
    Créditos: Divulgação Legenda: Ana Abbott e Patrícia Niedermeier em cena de "Dois Casamentos" ORG XMIT: FAh00SbrSlsuj7_NYBs2 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Ana Abbott e Patrícia Niedermeier em cena de 'Dois Casamentos'

    "Dois Casamentos" coloca em cena apenas duas personagens, Carminha (Patricia Niedermeier) e Jandira (Ana Abbott). Vestidas de noiva, conversam sobre suas visões em relação ao casamento.

    Elas estão em um palco desprovido de cenário, escuro –seria a sacristia ou um manicômio?–, monologando ou dialogando sem parar, à espera do momento de subir ao altar.

    Esse espaço despojado e assumidamente teatral dirige a atenção do espectador à palavra, às mulheres que tomam a palavra. A câmera as acompanha girando constantemente em torno delas, numa coreografia a três.

    As noivas têm características opostas e pontos de vista francamente divergentes sobre o casamento.

    Carminha, a mais velha, é culta e completamente desencantada em relação à referida instituição. A bancária Jandira é uma moça simplória que vê o casamento com uma resignação estereotipada.

    Incisiva, irônica e verborrágica, Carminha tem um discurso cheio de máximas que vai além do casamento e aborda aspectos da vida e da cultura contemporânea, a condição feminina, o machismo. Jandira muitas vezes não consegue acompanhar o fluxo de ideias da outra e se fecha.

    O tempo vai passando e a espera de ambas se eterniza. Ninguém aparece, nem mesmo os noivos, nada indica que as respectivas cerimônias acontecerão; podemos supor que elas foram abandonadas.

    Nessa altura, as duas estabelecem uma comunicação em outra base, menos verbal e mais tátil, libertadora e transgressiva por excelência.

    As imagens finais, que mostram cenas de outros casamentos em negativo, invertem o sinal das idealizações que cercam o matrimônio, remetendo a uma das frases de Carminha: "O casamento é uma representação barata da felicidade".

    DOIS CASAMENTOS
    DIREÇÃO Luiz Rosenberg Filho
    ELENCO Patricia Niedermeier e Ana Abbott
    PRODUÇÃO Brasil, 2014, 14 anos
    QUANDO em cartaz
    ONDE Caixa Belas Artes, r. da Consolação, 2423, tel. (11) 2894-5781

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