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    Patricia Piccinini abre exposição em SP misturando realismo e fantástico

    NINA RAHE
    DE SÃO PAULO

    12/10/2015 02h00

    Às nove da manhã de sexta-feira (9), meia dúzia de homens sentados em uma arquibancada do Vale do Anhangabaú, em São Paulo, observavam uma estrutura de nylon que ganhava espaço conforme era enchida de ar.

    O balão, híbrido de tartaruga e baleia, demorou uma hora para inflar de vez, fazendo com que os seis curiosos se multiplicassem e parecessem miniaturas diante da obra de 34 metros de comprimento e 23 de altura.

    O que os paulistanos viram foi o teste de "Skywhale" (baleia do céu), nome que a australiana Patricia Piccinini, 50, deu à criatura que fará um sobrevoo no centro nesta segunda (12), data em que a artista inaugura sua primeira individual em São Paulo.

    "Onde está ela?", Patricia pergunta assim que entra no Centro Cultural Banco do Brasil, onde exibe cerca de 40 obras. Por ela, a artista se refere a "Big Mother" (grande mãe), escultura com feições de macaco que amamenta um bebê humano.

    A inspiração para a peça de silicone, fibra de vidro e cabelo humano, vem de uma história que ouviu sobre um bêbe raptado por uma babuína que sofria pela perda da cria e tinha resolvido substitui-la.

    Patricia, que se considera mãe de todos esses seres e se ofende quando os criticam, diz que se preocupa com eles e pode contar com precisão a origem de cada um.

    Um experimento realizado nos EUA em 1995, no qual cientistas recriaram uma orelha humana no dorso de um rato foi o ponto de partida para a artista desenvolver "Protein Lattice" (estrutura de proteína), uma videoinstalação em que mostra um animal similar ao do estudo.

    O LADO HUMANO

    Assuntos como genética e tecnologia a interessavam desde a adolescência. Patricia cresceu acompanhando a progressão do câncer de sua mãe, morta em 1992. Ela conta que sonhava que a ciência pudesse ajudá-la com a cura. "Não me importo se a medicina é natural ou se usa órgãos de porcos, por exemplo. Só quero que funcione", diz.

    As obras mostram o real em contraponto ao artificial, à medida que criaturas estranhas aparecem ao lado de humanos hiper-realistas –caso de "The Welcome Guest" (o visitante bem-vindo), no qual um monstro parecido a um bicho-preguiça com garras compridas nas mãos e nas pernas interage com uma criança que reproduz as feições da filha da artista.

    Segundo Patricia, é uma forma de enfatizar o lado humano dos animais e o lado animal dos humanos e debater as consequências da modificação da natureza e da interação que dela resulta.

    A artista se posiciona ao lado da obra, exemplificando o que disse ao aproximar o próprio braço ao do bicho-preguiça –os dois com veias, pelos e tez infinitamente parecida– "Precisa ser real para que as pessoas acreditem que ele existe", explica.

    RON MUECK

    O realismo de suas obras e o material que utiliza para confeccioná-las aproxima Patricia do australiano Ron Mueck, cuja exposição no início deste ano na Pinacoteca do Estado atingiu 400 mil visitantes e gerou monstruosas filas de três ou quatro horas.

    "Nós usamos o mesmo material, mas não estamos interessados nas mesmas coisas", diz a artista, que se diz mais surrealista do que realista.

    A dimensão das criaturas expostas na individual, mais próximas da escala humana –em torno de dois metros de altura–, também diferem da grandiloquência de alguns trabalhos de Mueck, cuja obra "A Girl", por exemplo, é um bebê com quase cinco metros de comprimento.

    Mas a maior obra de Patricia não estará no CCBB, e sim sobre o centro da cidade no primeiro dia da mostra. Quando pensa em "Skywhale", no entanto, ela se identifica mais com o artista britânico Damien Hirst do que com Mueck. "A gente tem o mesmo senso de espetáculo", diz.

    A artista gosta do fato de que, no ar, sua obra pode ser vista facilmente, sem que as pessoas precisem ir até uma galeria de arte. Com esse trabalho, ela quis subverter a principal finalidade dos balões. "Pensei que seria interessante usar algo que tradicionalmente é um veículo de propagandas sem essa intenção", explica.

    Não é impossível, entretanto, que "Skywhale" funcione como uma forma de propagandear a própria exposição.

    COMCIÊNCIA - PATRICIA PICCININI
    QUANDO estreia seg. (12), das 9h às 21h; aberto de qua. a seg., das 9h às 21h; até 4/1/2016
    ONDE Centro Cultural Banco do Brasil, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651
    QUANTO grátis

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