• Ilustrada

    Monday, 29-Apr-2024 18:44:48 -03

    Filme exibe universo íntimo do presidente Salvador Allende

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    13/10/2015 02h23

    "Quando é que esta entrevista longa vai terminar?", pergunta a nonagenária Hortensia Bussi nos primeiros minutos de "Allende, Meu Avô Allende", filme sobre seu marido, o presidente chileno Salvador Allende (1908-73).

    Vencedor do prêmio de melhor documentário em Cannes neste ano e um dos destaques do Festival do Rio, o longa mergulha no universo pessoal do mandatário socialista que, deposto pelo golpe militar de 1973, cometeu suicídio no palácio presidencial.

    "Tudo o que é publicado sobre ele é político, mas eu queria saber como se vestia, o que comia, como era quando estava mal-humorado", diz à Folha a diretora, Marcia Tambutti Allende, neta de Salvador e Hortensia, que tinha dois anos à época do golpe.

    Para esquadrinhar a intimidade do avô, ela teve de remexer num tabu familiar. Após Pinochet tomar o poder no Chile, os Allende se fragmentaram: alguns se exilaram, outros chegaram a se matar; os remanescentes se encerraram em silêncio, traumatizados.

    Divulgação
    Créditos: Divulgação Legenda: Cena do documentário "Allende, Meu Avô Allende" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Hortensia e Salvador Allende com os netos, em 1971; entre eles, a diretora Marcia (segunda à dir.), no colo do avô

    "Aquilo teve um enorme custo: não é só uma passagem dos livros de história. Eram as nossas vidas. Eu tinha o direito de revisar o que significou para a minha família."

    A avó e a mãe, por exemplo, ofereceram enorme resistência a falar. "Tive de vencer o meu próprio pudor quando as entrevistei; no começo, interrompia os silêncios. Depois me dei conta de que aquilo significava algo, assim como os gestos, os suspiros."

    Aos poucos, a diretora quebrou as respostas evasivas, descobriu fotos e pôde traçar um panorama mais humano do político que ganhou ares míticos: o patriarca que era liberal com as filhas, que manteve amantes e que tinha discussões acaloradas com a mulher.

    No Chile, onde estreou em setembro, Marcia crê que o filme reabriu "diálogos em um país ainda cindido".

    E na família Allende? "O filme permitiu aos meus parentes que se dessem conta de que viviam quase como uma mini-censura. As coisas estão mais leves agora, mas não mudaram completamente."

    "Allende, Meu Avô Allende" será exibido às 19h40, no Estação Net Ipanema (r. Visconde de Pirajá, 605, tel. 21- 2279-4603).

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024