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    CRÍTICA

    Boa narrativa é ofuscada por atuação fraca de Cléo Pires

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    15/10/2015 02h45

    O grande sucesso dos dois filmes "Tropa de Elite", de José Padilha, poderia ter mudado o cinema brasileiro. Poderia ter provocado uma onda de longas de ação e ajudado a introduzir variedade de gênero num universo até agora dominado pelo humor rasteiro de comédias com popularidade assegurada pela TV.

    "Operações Especiais", de Tomás Portella, retoma este filão ainda pouco explorado no cinema nacional com uma fórmula que combina a pancadaria mais masculina com as fragilidades femininas.

    Desde a primeira imagem, colada no rosto e no fôlego sobressaltado, o filme é guiado pela presença de Cléo Pires.

    A imagem pequena e delicada da atriz contrasta com os brucutus que, armados, invadem uma favela e são recebidos a bala. O "flashback" que vem na sequência explica, de maneira bem mastigadinha, como Francis, uma jovem profissional de turismo interpretada por Pires, foi parar naquele tiroteio.

    Dan Behr/Divulgação
    Marcos Caruso e da Cleo Pires no filme "Operações Especiais" Crédito: Dan Behr/Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Marcos Caruso e Cléo Pires no filme "Operações Especiais"

    A primeira parte do filme segue à risca os manuais de roteiro: a heroína enfrenta os obstáculos e o desprezo dos machos alfa que a cercam, na jornada em busca de um salário melhor como policial civil.

    Esse trajeto não chega a ser enfadonho, mas repete situações mil vezes vistas, inclusive em produções de Hollywood. Por isso, sofre com a inevitável comparação com o cinema americano e sua capacidade de parecer sempre mais bem feito que o nosso.

    A face mais estimulante do filme surge quando Francis é escolhida para integrar uma força-tarefa. O grupo é enviado a uma cidade fluminense invadida por bandidos que fugiram durante a ocupação do Complexo do Alemão pela polícia, em 2010.

    A inserção de fatos reais dá à ficção densidade inesperada. Intercalada com cenas de ação bem filmadas, "Operações Especiais" traça um painel atual da nossa corrupção e da criminalidade expandida, sem a pretensão sociológica dos dois "Tropa de Elite".

    O delegado interpretado de maneira irônica por Marcos Caruso e o policial vivido pelo ótimo Fabrício Boliveira ajudam o filme a se liberar do drama individual.

    Esse conjunto de qualidades, no entanto, não consegue superar o problema maior de "Operações Especiais": acreditar em Cléo Pires como uma mulher irresistível.

    Sua presença excessiva na tela evidencia seus parcos recursos como atriz e não demoramos a ver Francis como "a frágil", "a delicada", "a decidida" e "a carinhosa". Sem contar que sua beleza cansa.

    OPERAÇÕES ESPECIAIS
    DIREÇÃO Tomás Portella
    ELENCO Cléo Pires, Fabrício Boliveira e Marcos Caruso
    PRODUÇÃO Brasil, 2015, 14 anos

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