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    Del Toro faz romance gótico de US$ 60 milhões em 'A Colina Escarlate'

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    15/10/2015 02h00

    Apesar de ter sido indicado ao Oscar por "O Labirinto do Fauno" (2006), transformado um personagem desconhecido da Marvel em sucesso ("Blade 2 "" O Caçador de Vampiros") e criado uma franquia cinematográfica baseada em HQs ("Hellboy"), o diretor Guillermo Del Toro, 51, sabe que não é uma unanimidade em Hollywood.

    "Você nunca é um sucesso completo. Sempre tem alguém para te odiar", conta o mexicano à Folha. "Acho importante dirigir filmes que não seriam feitos se eu não batalhasse por eles."

    É o caso de "A Colina Escarlate", que estreia no Brasil nesta quinta (15), um lindíssimo romance gótico de US$ 60 milhões que só existe porque o cineasta aceitou reduzir seu salário em 30% –os valores não são revelados.

    A censura foi mantida alta (menores de 17 anos precisam estar acompanhados por um adulto), fator que costuma prejudicar as bilheterias.

    Divulgação
    Créditos: Divulga Legenda "A Colina Escarlate" ALTA RES ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Jessica Chastain em "A Colina Escarlate", do diretor mexicano Guillermo Del Toro

    "O romance gótico geralmente é centrado no ponto de vista feminino, mas a heroína é sempre pura e frágil. Queria fazer uma história naquele cenário, mas com a protagonista fazendo sexo, lutando e capaz de sobreviver sem precisar se masculinizar", explica Del Toro.

    "Será difícil para o grande público aceitar e entender esses termos, porque os homens são inúteis ou manipulados na minha trama. Os fãs de terror vão reclamar da pouca violência e os amantes de 'Harry & Sally' [longa de 1989 dirigido por Rob Reiner] vão achar pouco romântico."

    LITERATURA FANTÁSTICA

    A subversão do gênero começa com Edith Cushing (Mia Wasikowska), uma garota na virada do século 19 que deseja ser escritora, porém se vê menosprezada ao criar histórias que se assemelham mais à literatura fantástica de Mary Shelley que aos romances melosos de Jane Austen.

    "Foi muito fácil me identificar com a personagem, já que muitas vezes não sou cogitada para certos papéis em filmes de ação só por ser mulher", admite Wasikowska.

    Edith é assombrada pelo fantasma da mãe e sofre uma nova tragédia que a leva a casar com o charmoso lorde inglês Thomas Sharpe (Tom Hiddleston). Ela, então, muda-se para a Grã-Bretanha, onde vive com Thomas e a irmã dele, a estranha Lucille (Jessica Chastain), em uma mansão no topo de uma colina.

    O solo do local produz um tipo de barro vermelho –que os irmãos tentam vender para restabelecer a honra e a fortuna que pertenceram à família no passado.

    "É minha resposta a 'Downton Abbey'", gargalha Del Toro, referindo-se à série inglesa sobre uma família de nobres britânicos que, em meados do século passado, tenta manter o estilo de vida dentro de um mundo em clara mudança social.

    "Não entendo como as pessoas torcem por aquela família. Eles representam o que havia de ruim na sociedade. A casa do filme é um monumento à arrogância de pessoas que eram ricas e perderam tudo. Ela foi desenhada com uma fachada em gótico moderno para refletir o mau gosto dos proprietários."

    O diretor escreveu a história de "A Colina Escarlate" há mais de oito anos, baseando-se em experiências sobrenaturais contadas por sua mãe.

    "No dia em que a avó dela morreu, minha mãe, enquanto dormia, ouviu passos e sentiu o perfume dela no quarto. As molas da cama rangeram e ela sentiu um peso contra suas costas, mas não havia ninguém lá", conta o cineasta. "Mas isso é normal no México. Se contamos histórias de fantasmas no jantar, a única reação da pessoa é pedir para passar o arroz."

    PERFECCIONISTA

    Depois de quatro meses de filmagens em Toronto, no Canadá, o diretor ainda passou quase um ano lapidando o projeto. "Queria que tudo saísse perfeitamente", confessa ele, que gravou a trilha sonora 12 vezes, remixou o som mais três e corrigiu as cores do longa por 20 vezes.

    "Queria que as pessoas entendessem a violência, a estranheza, o horror e o romance. É como uma ópera na qual você se preocupa com músicas, letras e cenário."

    Del Toro também recorreu aos amigos. Em maio, chamou o diretor mexicano Alejandro Gonzalez Iñárritu ("Birdman") em sua ilha de edição para ajudar a cortar 17 minutos. Pouco antes do lançamento, tomou café da manhã com o conterrâneo Alfonso Cuarón ("Gravidade") para falar sobre novos projetos e mostrar "A Colina Escarlate".

    "O sucesso dos três é o sucesso de todos", diz Del Toro. "Somos criados na América Latina para sermos competitivos, mas o sucesso de uma pessoa não precisa estar ligada ao fracasso da outra. Um diretor brasileiro reconhecido internacionalmente só ajuda outros cineastas a percorrerem o mesmo caminho."

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