De todos os muitos talentos do Miele, o mais encantador era sua habilidade de contar histórias.

Travessuras e feitos extraordinários eram expostos com inteligência, humor, leveza e charme. Sua conversa era interminável.

Desde sua chegada ao Rio, Miele era querido. Bastava meia hora de papo para alguém achar que o conhecia há décadas. Era uma pessoa muito confortável.

Com sua partida, lembrei de um diálogo nosso, em que dizia ter começado a carreira como "quebra-galhos". Respondi que gosto de morar num país onde o "quebra-galhos" é o Miele.

Em maio último, vivemos uma experiência mágica: um show Miele e Bôscoli em homenagem aos 70 anos da sua amiga Elis, com Renato Teixeira, João Bosco, Gil, Fagner e Ivan Lins. Percebi um homem do nosso tempo, olhando sempre adiante, curioso.

Aprendi, por exemplo, que quando se domina os fundamentos, a tecnologia é um instrumento nosso -e não o contrário. E Miele sabia disso, afinal, muitos fundamentos do entretenimento brasileiro foram inaugurados por ele.

Por sua memória e experiência, deveria ser proibido de morrer.

JOÃO MARCELO BÔSCOLI é produtor musical e filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli.