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    Poema de Wallace Stevens sobre memória é adaptado ao palco

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    EDITORA-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    16/10/2015 02h19

    "Desilusão das Dez Horas", peça da Companhia do Ator Careca em cartaz em São Paulo, brinca com o que é dito, lembrado ou imaginado.

    "É um espetáculo de memória, todo feito de fiapos", resume o ator Helio Cicero.

    Escrita por Alberto Guiraldelli a partir do poema homônimo do modernista americano Wallace Stevens (1879-1955), a montagem é centrada em uma família cujos homens, marinheiros, estão constantemente ausentes. Às mulheres, presas à rotina do lar, resta imaginar o que seria esse mundo distante em que vivem seus pais e maridos.

    Segundo o dramaturgo, o texto é uma forma de discutir nossos papéis na sociedade, como eles se repetem ao longo de gerações e como, por vezes, somos incapazes de fugir deles. "Questionamos esses arquétipos do feminino e do masculino", completa o diretor André Garolli.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil. Data 12-10-2015. Espetaculo Desilusao das dez Horas. Atores Alberto Guiraldelli (esq/camisa branca) e Helio Cicero (dir). Teatro Viga Espaco Cenico Sala Piscina. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
    Alberto Guiraldelli (esq.) e Helio Cicero em "Desilusão das Dez Horas"

    Mas tudo na peça é visto pelos olhos de um garoto (papel de Guiraldelli), filho mais novo da família. É por meio dessa desilusão, da ausência da figura paterna, do pai herói, que o garoto amadurece, afirma o encenador.

    Quando Seu Moushier (Helio Cicero), um velho marinheiro impedido de voltar ao mar, traz cartas inesperadas às mulheres e um presente ao menino, a rotina da família se quebra e vêm à tona seus fantasmas: muito é recordado, mas a lembrança se mistura à imaginação.

    "A solução desses personagens para seu mundo é a fantasia", diz o diretor.

    "São personagens com muitas pedras na garganta", continua a atriz Mônica Granndo, que interpreta a mãe da família. "Essas mulheres são como pedras incrustadas nas paredes de casa, como em um recife, e o marujo é a maneira que encontram para olharem para o mundo."

    Assim, para representar o sonho, com seu aspecto nebuloso, sem traços definidos, boa parte da trama é contada por meio de sombras, projetadas em duas cortinas nas laterais do espaço cênico.

    Complementa a encenação a trilha sonora de músicas orientais, que remetem a histórias de além-mar.

    DESILUSÃO DAS DEZ HORAS
    QUANDO qua. e qui., às 21h; até 17/12 (não haverá sessões em 26/11 e 3/12)
    ONDE Viga Espaço Cênico, r. Capote Valente, 1.323, tel. (11) 3801-1843
    QUANTO R$ 40
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

    Edição impressa

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