Não se trata de moda passageira nem de tendência da estação. O resgate de práticas artesanais é uma cultura, inserida num movimento maior de reconhecimento da produção local, presente também na gastronomia ou no design.
"Começou em 1995, quando o jornalista italiano Carlo Petrini fundou o movimento slow food", diz Pascal Gautrand, professor do Instituto Francês de Moda e um dos organizadores do salão parisiense Maison d'Exceptions.
"Isso mostrou às pessoas o prazer de cozinhar com ingredientes orgânicos, de áreas próximas. Foi um modo de redescobrir valores fundados no patrimônio local", diz ele. No Brasil, o processo encontra paralelo, por exemplo, no trabalho do chef Alex Atala.
Keiny Andrade/Folhapress | ||
O modelista Fernando Jeon em ateliê de São Paulo |
O universo da moda aderiu com atraso. Mas os primeiros sinais da mudança vieram em 2010, quando maisons como a Chanel lançaram coleções que destacavam o artesanato e a história da marca. "A alta-costura é um ofício caseiro", define Gautrand.
A nova cultura atende também a uma necessidade dos consumidores, expostos à padronização excessiva do "fast fashion" e a problemas da indústria, como baixos salários.
"As pessoas querem saber de onde vem o produto e em que condições é feito. Queremos roupas com história, que vão envelhecer conosco", diz o diretor artístico Sérgio Machado, colaborador do estúdio Trend Union, criado pela alemã Li Edelkoort. Em 1993, ela fundou a associação Heartwear, para dar apoio a artesãos de diferentes países.
Nesse mesmo espírito, o salão Maison d'Exceptions reúne anualmente em Paris cerca de 30 ateliês, que levam seu serviço a jovens estilistas e marcas de luxo. "A tendência só deve crescer", aposta Machado. "Queremos consumir, mas de maneira correta."
Editoria de Fotografia | ||
Folha entra nos ateliês de quatro marcas e mostra percurso da roupa até desfile; veja ensaios |