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    ANÁLISE

    Em centenário, dramaturgo Arthur Miller volta a ser popular em casa

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    17/10/2015 02h10

    Arthur Miller voltou a ser extremamente popular nos EUA. No ano de seu centenário, que se completa neste sábado (17), contam-se 130 montagens só de "The Crucible" ("As Bruxas de Salém", 1953), segundo o Dramatists Play Service, uma agência de licenciamento de direitos.

    É sua peça célebre sobre a caça às bruxas, tanto aquela de Salém, em Massachusetts, no século 17, como a que ele viveu nos anos 50, de perseguição durante o macartismo.

    Outras 30 produções revisitam a obra-prima "Death of a Salesman" ("A Morte de um Caixeiro-viajante", 1949), sobre um pai suicida e o fracasso do sonho americano. É peça "esculpida no monte Rushmore do teatro americano", na definição de Linda Winer, da Universidade Columbia.

    Mais importante, duas montagens de textos desse período inicial estão sendo preparadas para a Broadway, dirigidas pelo belga Ivo van Hove: a mesma "The Crucible" e, após temporada londrina premiada, "A View From the Bridge" ("Um Panorama Visto da Ponte", 1955).

    Van Hove, que os paulistanos conheceram –sem entusiasmo– com outro trabalho na Mostra Internacional de Teatro (MITsp) deste ano, é talvez o encenador mais festejado no Ocidente, hoje.

    É responsável por encontrar, como se anunciou em Londres, "um Miller para o século 21", com cenário todo branco, chuva de sangue no final e atuações que o libertariam, afinal, do naturalismo. Mas não é de agora que Miller (1915-2005) vem sendo libertado ou redescoberto.

    Aquele início das grandes obras durou só até os anos 60, quando começou o intervalo de três décadas em que, no dizer do crítico John Lahr, da "New Yorker", ele passou a ser visto como ultrapassado tanto pela maneira de contar histórias como pela superioridade moral que empostava nas peças. Ficou para trás em forma e conteúdo político.

    Miller só foi retomar a dramaturgia, de fato, nos anos 90. Passou a estrear preferencialmente em Londres, onde ainda queriam suas peças, como ele declarou então.

    Foram três textos em sequência, que hoje, se não se aproximam dos três grandes do princípio, já estão nas listas americanas de suas melhores criações: "The Ride Down Mount Morgan" ("A Descida do Monte Morgan", 1991), "The Last Yankee" ("O Último Ianque", 1993) e "Broken Glass" ("Vidros Partidos", 1994).

    Como antes, Miller busca no herói ou anti-herói e em suas relações mais pessoais as grandes pinceladas, os traços alegóricos daquilo que percebe no país. Do seu jeito, recusando alinhamento partidário, foi um persistente autor de teatro político, desde os primeiros passos no esquerdista Federal Theater.

    Embora trate quase topicamente da sociedade americana, Miller sempre foi bem-vindo no Brasil. "A Morte de um Caixeiro-viajante" estreou no Rio dois anos depois de Nova York, com o velho comediante Jaime Costa no papel de Willy Loman, numa atuação lembrada até hoje.

    "Um Panorama Visto da Ponte" chegou a São Paulo três anos depois de NY, com uma jovem Fernanda Montenegro. E "As Feiticeiras de Salém" foi encenada por um jovem Antunes Filho em 1960.

    O mesmo se deu com "Vidros Partidos" e "A Descida do Monte Morgan", depois. E o mesmo se percebe na última década com a libertação, por assim dizer, das peças clássicas. "Caixeiro-Viajante" já recebeu cenário de Daniela Thomas, para começar.

    Há cinco anos, reafirmando esse eterno retorno de Miller no Brasil, saiu "A Morte de um Caixeiro-Viajante e Outras Quatro Peças", em tradução de José Rubens Siqueira pronta para a cena (Companhia das Letras, 464 págs.).

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