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    Autora de 'Comer, Rezar, Amar' lança novo livro e é contra seguir paixão

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    18/10/2015 02h10

    Aos 37 anos, Elizabeth Gilbert publicou "Comer, Rezar, Amar" (2006), a jornada autobiográfica da mulher que cura desilusões amorosas fazendo as três ações do título mundo afora. O livro vendeu 10 milhões de cópias e virou filme com Julia Roberts em 2010.

    Maldito seja o sucesso. Ela calculou: teria o que, umas quatro décadas de produção literária pela frente? Mas como voltar a escrever sob a pressão de superar a si mesma?

    "É o tipo de pensamento que pode levar uma pessoa a beber gim às nove da manhã", ela contou em 2009 num Ted Global, fórum que reúne histórias de vida inspiradoras.

    Damon Winter/The New York Time
    FILE -- Elizabeth Gilbert, author of “Eat, Pray, Love,†in Frenchtown, N.J., Dec. 21, 2009. Gilbert's latest work, "The Signature of All Things," takes on a new path in a novel about a 19th-century botanist. (Damon Winter/The New York Time) ORG XMIT: XNYT31 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A escritora Elizabeth Gilbert, autora de "Comer, Rezar, Amar", em 2009

    "Bom, são 8h e ainda estou sóbria", a autora afirma à Folha seis anos depois, pelo telefone de sua casa, num distrito com menos de 2.000 habitantes em Nova Jérsei (EUA).

    "Falavam de minha enorme sorte como se fosse uma maldição, não uma bênção", diz. É esse otimismo que dá o tom de seu novo livro, o terceiro depois do best-seller de 2006.

    "Grande Magia" é um apanhado de palestras motivacionais que ela deu no Ted. Autoajuda confessa, a obra funciona como biscoito chinês no atacado. Meta: ajudar leitores a vencer bloqueios de inspiração e "viver criativamente".

    Lá pelas tantas, lembra de Harper Lee. Diz que a escritora teria se amedrontado após o sucesso de "O Sol É para Todos" (1960) –seu segundo romance, "Vá, Coloque um Vigia", só chegou 65 anos depois.

    Numa entrevista de 1962 reproduzida em "Grande Magia", Harper justifica a ausência de novidades: "Tenho medo. Quando se está no topo, só há uma direção possível".

    MENOS, MENOS

    Elizabeth conclama: desçamos do patamar. Ninguém precisa ser genial. Ela tem esta opinião sobre o conselho "siga sua paixão e tudo ficará bem": bom, ele não presta.

    "Essa sugestão pode ser inútil e às vezes até cruel", escreve no livro. Não raramente, argumenta, você não tem uma paixão definida. "E se alguém lhe diz casualmente para segui-la, acho que você tem o direito de mandar a pessoa para aquele lugar."

    É como se um médico prescrevesse "ter orgasmos múltiplos" como receita para uma vida sexual incrível. Falar é fácil. "Mas não ajuda em nada."

    Ela diz que, na Grécia antiga, homens viam a inspiração como presente dos deuses. Já a Renascença prestou um "desserviço" ao apontar que "certas pessoas eram gênios", e não "que tinham gênios".

    Para a autora, ninguém deve criar só para chegar no topo do qual Harper Lee temia desabar. Em vez de perseguir paixões, vá atrás daquilo que provoque sua curiosidade. Essa, sim, é a mágica para uma vida realmente interessante, diz.

    Acredita ter conquistado a sua. Casou com um gaúcho que conheceu em Bali –interpretado por Javier Bardem no filme "Comer, Rezar, Amar". Em 2002, foi finalista no National Book Award com "The Last American Man", sobre um homem que vive nas montanhas. Antes, dançou no balcão do bar Coyote Ugly, em Nova York (sua história inspirou o filme de 2000 "Showbar").

    A escritora explica como põe sua filosofia de vida em prática. "Nesta semana, estou curiosa sobre o que excita as pessoas." Dia desses, em vez do papo furado de sempre, perguntou a sua maquiadora o que a interessava.

    Ouviu de volta: "Descobriram água em Marte". Achou o máximo. Quem sabe isso não inspira um texto?

    Aqui na Terra, um "nova-iorquino bem pomposo" perguntou a Liz: "Você não teme que seu livro encoraje pessoas a produzirem arte ruim?".

    É o tipo de argumento que irrita a autora, crítica da divisão entre alta e baixa cultura. "Meu problema é o mundo não ter arte o bastante", afirma. A própria obra é alvo frequente de ataques. Seu best-seller já foi "rebatizado" por um crítico como "Wealthy, Whiny, White" (rica, chorona e branca) e ganhou a versão masculina "Beber, Jogar, F#der".

    Grande Magia
    Elizabeth Gibert
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    Ela insiste não ligar para os tomates. "Preocupar-me com isso seria uma distração", afirma Elizabeth –que já disse ter a "alma de um escritor muito sério" e a "personalidade de um instrutor de aeróbica".

    GRANDE MAGIA
    AUTOR Elizabeth Gilbert
    EDITORA Objetiva
    QUANTO R$ 29,90 (192 págs.)

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