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    CRÍTICA

    Patricia Piccinini exibe obras realistas com discurso imbecil

    FABIO CYPRIANO
    CRÍTICO DA FOLHA

    18/10/2015 02h40

    Personagens bizarros e meigos pululam na cultura popular há tempos: o alienígena de grandes olhos criado por Steven Spielberg para "E.T - O Extraterrestre", em 1982, ou o jedi Yoda, da série "Guerra nas Estrelas", de George Lucas, são alguns dos mais famosos seres dessa galeria de figuras estranhas.

    O mundo das artes plásticas também se ocupa dessa vertente e a australiana Patricia Piccinini é sua mais reconhecida representante.

    Desde 2003, quando ocupou o pavilhão da Austrália na Bienal de Veneza, ela alcançou esse posto com certa facilidade. Isso porque, ao contrário do cinema hollywoodiano, que busca agradar a qualquer preço, na arte contemporânea busca-se um efeito um tanto contrário.

    As esculturas tão realistas de Ron Mueck, por exemplo, provocam estranhamento por alterar radicalmente as dimensões humanas.

    Contudo, o caso mais radical do universo bizarro pertence aos irmãos Jake and Dinos Chapman, com seus personagens em situações de extrema violência.

    FOFURA

    "ComCiência", a individual de Piccinini em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, apela para o lado mais fofo das obras da artista e acaba infantilizando todo o público com um discurso raso e superficial.

    "Quem é esta figura que se equilibra em uma cabra? De longe, ela se assemelha a um garoto forte, talvez até um atleta olímpico. Mas há algo incomum em seu corpo: ele não é 100% humano. Difícil definir de onde ele veio, talvez do mar, já que seu pé lembra a cauda de um golfinho."

    Esse texto de parede se refere à obra "A força de um braço"(2009). A mostra, organizada por Marcelo Dantas, segue por este trajeto, tratando o visitante com um discurso imbecil, afinal.

    Se, em si, as esculturas de Piccinini já simplificam uma questão complexa como as mutações genéticas, os textos são extensões radicais desse ponto de vista.

    Trata-se, obviamente, de uma estratégia populista, que visa encher o CCBB de público. Não há algo errado com o desejo de lotar de pessoas, ao contrário. Mas é imprescindível que esse público seja tratado com mais respeito.

    Apelar para uma estratégia de marketing fácil nas exposições reduz o significado da obra. Infelizmente isso tem sido uma prática cada vez mais comum e, por este motivo, merece ser revista. E com urgência.

    COMCIÊNCIA - PATRICIA PICCININI
    ONDE: CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL, R. ÁLVARES PENTEADO, 112, TEL. (11) 3113-3651
    QUANDO: QUA. A SEG., DAS 9H ÀS 21H, ATÉ 4/1/2016
    QUANTO: GRÁTIS (VISITANTES PODEM ANTECIPAR A AQUISIÇÃO DO INGRESSO POR MEIO DO SITE E DO APLICATIVO DO INGRESSORAPIDO.COM.BR)

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