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    CRÍTICA

    Filme de Laurie Anderson sobre cão propõe reflexão sobre a vida

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    22/10/2015 02h47

    Laurie Anderson era garota quando levou seus irmãos para passear sobre um lago congelado. Um buraco se abriu no gelo, e os dois pequenos submergiram no negrume da água gelada. Ela não titubeou: mergulhou, salvou um. Depois mergulhou, salvou outro.

    Ao chegar em casa, contou a história para a mãe e esperou sua reação. Ela a elogiou muito –especialmente por suas habilidades como nadadora e mergulhadora. Laurie registrou o momento como o de maior conexão e amor com sua mãe, com quem teria uma relação conflituosa.

    Com memórias e reflexões sobre a vida –e a inevitável convivência com a morte–, a multiartista desenvolve com criatividade "Coração de Cachorro". É um filme diferente, denso, com pedacinhos de humor e críticas ao cotidiano nos Estados Unidos depois do 11 de Setembro.

    Divulgação
    Heart of a Dog
    A cadela Lolabelle em "Coração de Cachorro", de Laurie Anderson

    Artista performática, compositora de músicas experimentais, criadora de instrumentos, escultora, Laurie Anderson inova também no cinema. Mescla com sensibilidade diferentes recursos gráficos com filosofia, histórias, música.

    Sentir a tristeza sem ser triste. É o caminho que ela diz buscar.

    Sim, tem o cachorro. Sua cadela Lolabelle, uma fox terrier, a acompanha por caminhadas em campos.

    Era uma forma de enfrentar a angústia e perplexidade com as transformações que aconteciam nos EUA –que foi se tornando cada vez mais militarizado e preocupado em espionar cidadãos.

    Em sua trajetória, Lolabelle vira artista: faz esculturas, pinta, toca. Laurie trabalha seus laços com a pequena, filma com a perspectiva dela. Até que ela se vai. Quem tem cachorro sabe do que se trata.

    Mas o filme não é só sobre a dor da morte de Lolabelle ou sobre o desaparecimento da mãe. O que permeia tudo é o universo de Laurie Anderson após a morte de Lou Reed (1942-2013), seu companheiro por duas décadas.

    editoria de arte/Folhapress
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    O músico é presença sutil, mas intensa. Sua composição "Turning Time Around" amarra, no final, todo o filme. Calma, a fita vai se derramando e criando uma atmosfera reflexiva.

    Mesmo quem não se identifica com os princípios filosóficos e religiosos da artista ganha minutos para simplesmente pensar na vida –com tudo incluído: alegrias, perdas e a necessidade de seguir adiante. Por isso, o documentário existe e vale.

    CORAÇÃO DE CACHORRO (Heart Of A Dog)
    DIREÇÃO Laurie Anderson
    PRODUÇÃO EUA, França, 2015, 14 anos
    MOSTRA quinta (22), às 21h (MIS); sexta (23), às 23h (CineSesc); segunda (26), às 18h (Cinesala); quarta (4), às 20h (Sesc Belenzinho)

    Edição impressa

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