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    CRÍTICA

    Capricho autoral e ferramentas batidas tornam 'Chronic' algo bobo

    PEDRO BUTCHER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    22/10/2015 02h50

    Pode um filme inteiro ser arruinado por uma única imagem? Em "Chronic", Michel Franco nos mostra que sim –e comprova, por tabela, como o cinema é arte frágil.

    Franco não está sozinho, é claro. Outros filmes já foram destruídos pela insistência de seus diretores em acrescentar algum detalhe que, em geral, tem o objetivo de impor sua "visão de mundo" –uma espécie de capricho autoral que tem a força de anular tudo o que havia sido dito até aquele momento (como Lars Von Trier e o desfecho niilista de "Ninfomaníaca", por exemplo; ou Maiwenn e o apelativo fim de "Polisse").

    Divulgação
    Cena de 'Chronic' (Michel Franco - México) Único filme da América Latina na lista de Cannes 2015, mas é falado em inglês. Sobre um enfermeiro que ajuda quem está no leito da morte. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***LEGENDA DO JORNALCHRONICDireção Michel Franco (México)ELENCO Tim RothDrama sobre um enfermeiro que trata pacientes terminais enquanto tetna se conectar com a própria família
    Cena do mexicano "Chronic", de Michel Franco

    O caso de "Chronic", primeiro longa em língua inglesa do mexicano Michel Franco ("Depois de Lucia"), é bastante parecido e igualmente doloroso. Assim como em "Ninfomaníaca" e "Polisse" –ainda que em níveis bem diferentes, é claro–, qualidades genuinamente sólidas, ligadas principalmente ao evidente trabalho e à notória dedicação dos atores, acabam destruídas por uma única decisão infeliz do diretor.

    "Chronic" narra a vida de um enfermeiro (interpretado por Tim Roth) que trabalha como acompanhante de doentes terminais. Franco preenche seu filme com um olhar cuidadoso sobre a rotina desse personagem e sua relação com os pacientes, optando por ser bem menos detalhado ao abordar a vida pessoal do protagonista.

    Inicialmente, a decisão por uma narrativa elíptica parece uma forma interessante de economia dramática, mas aos poucos se mostra apenas um recurso fácil no sentido de prender a atenção do espectador e tentar criar mistério. O roteiro solta algumas informações, mas omite sempre as que seriam as mais importantes –uma estratégia tão batida quanto eficiente ("Chronic" recebeu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes).

    editoria de arte/Folhapress
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    Menos que uma estratégia: um truque que se mostra com clareza na imagem derradeira, que não poderia ser mais "impactante" e "boba".

    E mais: não é possível dizer que esse desfecho, de tão infeliz, possa ser classificado como "spoiler".

    CHRONIC
    DIREÇÃO Michel Franco
    PRODUÇÃO México/França, 2015; livre
    MOSTRA qui. (22), às 21h30 (Cinesala); sex. (23), às 17h15 (Cinearte 1); sáb. (24), às 18h30 (Reserva 2); dom. (25), às 17h45 (Espaço Itaú - Frei Caneca 3); quar. (28), às 19h45 (Cinesesc)

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