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    'Koan' reúne aficionados da dança e jovens atendidos por ONG paulista

    IARA BIDERMAN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    22/10/2015 12h52

    Psiquiatras, advogados e empresário faltarão ao trabalho nesta sexta (23) para dançar.

    Dirigidos pelo coreógrafo Rubens Oliveira e pelo psicanalista Sergio Ignacio, esses diletantes da dança se juntaram a bailarinos profissionais e a jovens integrantes da ONG Arrastão para montar "Koan", que estreia no sábado (24) no auditório do Masp, em São Paulo.

    A partir de "koans" — pequenas narrativas usadas no zen budismo— para questionar o pensamento racional, eles vão dançar temas como vida, dor, tribo, casamento e solidão ao som da trilha da banda Acid Tree, especialmente composta para o espetáculo.

    Foram nove meses ensaiando, frequentando oficinas de butô, aikido, esgrima e "clown", e trocando figurinhas com os jovens da Arrastão, ONG voltada à inserção social dos moradores de Campo Limpo (zona sul de São Paulo).

    Oliveira, que veio do Espírito Santo para o Campo Limpo quando tinha 13 anos, participou na juventude de várias das oficinas de arte do Arrastão. Aos 17 anos, foi um dos jovens atendidos por ONGs escolhidos pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo para a montagem do espetáculo "Samwaad - Rua do Encontro".

    Mais tarde, já na companhia profissional de Bertazzo, Oliveira conheceu Sergio Ignacio, um dos "cidadãos dançantes" (não-profissionais envolvidos na produção de dança).

    Em 2012, os dois começaram o projeto "Chega de Saudades". A ideia era juntar gente que, na rotina entre casa e trabalho, sentia falta de praticar dança de uma forma mais consistente.

    O projeto é muito mais que uma simples aula de dança. "É um ambiente de expressão individual dentro de uma atitude profissional", diz Ignacio.

    Essa atitude significa participar do processo da montagem de um espetáculo: reuniões, ensaios, aulas específicas e provas de figurino que precisam ser encaixados em agendas complicadas como a do empresário Ulisses Zamboni, 53.

    "Limei reuniões noturnas depois que começaram os ensaios e, na reta final [para a apresentação], bloqueei também a agenda para a família: não tem almoço de domingo ou programa de sábado à noite, porque ensaiamos dez horas por dia no fim de semana."

    Para a psiquiatra Ana Claudia Melcope, 36, a operação para manter a dança na agenda incluiu trocar plantões de fim de semana com colegas dos dois hospitais em que trabalha, o das Clínicas e o São Paulo, da Unifesp.

    A disposição dos participantes indica, de acordo com Ignacio, que a produção do espetáculo é uma demanda não só artística, mas também social.

    A ideia de um projeto socioeducativo em um sentido mais literal se concretizou nessa quarta montagem do "Chega de Saudades" —as primeiras foram "Carretel" (2012), "Grão" (2013) e "Correm as Cidades nos Quatro Cantos do Mundo" (2014).

    Jovens participantes das oficinas de arte do Arrastão tiveram aulas com a arquiteta Débora Laub (que dança no elenco) sobre a arquitetura do Masp e de Lina Bo Bardi, e sobre questões mais técnicas como proporção.

    Isso levou à construção, pelos alunos, de uma maquete do auditório desenhado por Bardi e à confecção do cenário que será colocado no local durante as apresentações.

    O trabalho com a Arrastão também envolveu a confecção do figurino, concebido por Juarez Puig e feito pelos integrantes do coletivo Costurando Sonhos.

    "KOAN"
    QUANDO sex. (23) e sáb. (24), às 21h; dom. (25), às 20h
    ONDE Auditório Masp Unilever, av. Paulista, 1578, tel. (11) 3149-5959
    QUANTO R$ 40

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