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    Moda 'sem gênero' e viúvas lusitanas animam temporada de inverno 2016

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA
    GIULIANA MESQUITA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    22/10/2015 14h49

    Numa temporada de inverno 2016 em que muitas das inspirações e dos estilos apresentados na passarela flertam com os da temporada internacional de desfiles, soa como alento o trabalho de Luiz Claudio, da grife Apartamento 03, e de Reinaldo Lourenço.

    Ambos desfilaram no quarto dia de desfiles da São Paulo Fashion Week, com coleções que precisam ser tocadas e olhadas ao avesso para serem compreendidas.

    Lourenço faz um dos melhores looks de noite da moda brasileira, com um preciso trabalho de construção de roupa baseado na estética de culturas distantes.

    Nesta coleção, ele viaja a Portugal para reconstruir os azulejos portugueses com estampas e grafismos e ressignificar o traje das viúvas do país.

    O preto e a renda guiaram Lourenço no processo de sensualizar a imagem dessas mulheres, com detalhes de lingerie sobrepostas com peças de alfaiataria. Ele aplica a cor dos azulejos nas estampas de ziguezague impressas em saias plissadas e camisas.

    Foi Luiz Claudio, no entanto, quem até agora fez a melhor coleção da temporada.

    Inspirado no filme "Orlando" (1992), de Sally Porter, ele transforma camadas de tecido em peças complexas com aplicações que demoraram até 45 dias para serem executadas num único vestido.

    "Orlando" é baseado no livro homônimo de Virginia Woolf, lançado em 1928, e conta a história de um homem que é transformado em mulher do dia para a noite.

    A coleção tem como base a alfaiataria (a parte masculina), combinada à silhueta marcada do vestuário feminino, –alongada, tanto nos vestidos mídi de decotes generosos até o colete preto bordado que vai quase até o pé.

    Os tecidos causavam, propositalmente, impressões desencontradas, como o gênero do personagem de inspiração. Um top, que parecia de pelúcia, era, na verdade, seda desfiada e escovada.

    Apesar das boas coleções de Lourenço e da Apartamento 03, nomes importantes do calendário de desfiles não entusiasmaram. Samuel Cirnansck preferiu apresentar damas, noivas e debutantes do que pesar a mão conceitual que fez sua fama.

    Faltou coesão no emaranhado de brilhos, comprimentos e silhuetas. Embora ele seja querido pelas noivas endinheiradas, um desfile não pode ser apenas uma plataforma de venda, mas, sobretudo, um exercício de ideias.

    Ideias que Helo Rocha repetiu na estreia de sua grife homônima –a estilista fechou a marca Têca neste ano. O misticismo do candomblé que explorou no verão 2016 é similar ao desta temporada, baseado na astrologia e nos quatro elementos.

    A coleção é cheia de belos vestidos, trabalhados com texturas e camadas de tecidos fluidos.

    As composições de preto com transparências lembravam as do último desfile alta-costura da grife francesa Givenchy, e os comprimentos curtos, por sua vez, são uma grata surpresa ao repertório da designer.

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