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    Aos 56, Morrissey diz que ainda não sabe o que será da carreira no futuro

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    23/10/2015 02h00

    Quão breve é o futuro do compositor de "How Soon is Now?"? Quando encerrar um show no próximo dia 2 de janeiro, em Las Vegas (EUA), a carreira de Morrissey estará indefinida. Sem contrato com gravadora e sem convites para novas apresentações, ele vem ao Brasil para quatro datas, em novembro –duas em São Paulo–, com a turnê de "World Peace Is None of Your Business", disco lançado em 2014.

    Após um desentendimento contratual entre o cantor e seu selo, Harvest, o álbum foi retirado dos serviços de streaming e de venda digital.

    Político, o disco menciona até mesmo o Brasil –a obra foi criada, segundo Morrissey diz à Folha por e-mail, enquanto ele acompanhava os protestos de 2013 no país.

    Folha - Seu romance, "List of The Lost", pegou todo mundo de surpresa. Como começou a escrevê-lo?

    Morrissey - Reuni os rascunhos como um roteiro para o cinema e percebi que minhas descrições, na escrita, eram provavelmente melhores do que os diálogos, então virou um romance.

    Sua autobiografia foi um dos livros mais vendidos no Reino Unido em 2013. Pretende seguir na carreira literária?

    Nunca senti a necessidade de ir além de cantar, mas às vezes nos vemos diante de novas situações. Especialmente para alguém que, como eu, sempre tem certeza de que o novo pode acontecer.

    Dizem que, para permitir a publicação de sua autobiografia, você exigiu à Penguin que a obra saísse pelo selo de clássicos da editora. É verdade?

    Não, não é verdade. Você não pode decidir se seu próprio livro é um clássico, e você não pode entrar em contato com a Penguin e dizer: "Olá, eu escrevi um clássico, imprima-o imediatamente". A decisão foi da Penguin.

    A luta contra o câncer de esôfago, diagnosticado em 2014, preocupou seus fãs. Foi sua experiência mais difícil? Aprendeu algo com ela?

    Não aprendi nada! Suponho que todos pensamos que iremos habitar estes corpos para sempre e poderemos controlá-los até o dia em que morrermos. Mas não é assim, alguma coisa sempre acaba conosco. Infelizmente, é do instinto das pessoas ser negligente com a própria saúde.

    Houve rumores de que você abandonaria a carreira. Chegou a pensar nisso? O que o fez –e ainda o faz– continuar?

    Foi "World Peace Is None of Your Business", que acredito ser um álbum extraordinário e que merece ser ouvido, e o único modo de tornar isso possível era sair em turnê com ele o máximo que posso.

    Você menciona o Brasil na música "World Peace is None of Your Business". Está interessado nas questões políticas e sociais do nosso país?

    Escrevi a música quando milhares de brasileiros foram às ruas expressar sua raiva com os gastos do governo. Foi outro exemplo global em que ficou evidente que a vontade das pessoas não é uma preocupação do governo, que só age em seu próprio interesse.

    Todas as notícias de pessoas se revoltando contra o poder são relatadas pela BBC como algo condenável, elas sempre são manifestantes, nunca 'as pessoas do Brasil' ou 'as pessoas do Egito'. Para eles, se você age contra o sistema, deixa de ser alguém. Já a polícia que te espanca é sempre chamada de "força de segurança", mesmo sendo ela a causa maior de insegurança.

    Jornalistas geralmente são advertidos a não perguntar nada sobre os Smiths. Desta vez não veio o aviso, e você falou sobre a banda em entrevista recente ao apresentador americano Larry King. Está mais aberto a falar sobre isso?

    Não quis ser rude com o Larry porque o respeito muito. Mas não há absolutamente nada mais a dizer sobre os Smiths. Seguir adiante com isso começa a soar como uma língua dos mortos. Melhor você se sentar em um bar escuro... Divagando sobre a Segunda Guerra Mundial.

    Houve um problema com a Harvest, gravadora do seu último disco, que cancelou o seu contrato. O que aconteceu?

    Jamais assinei com a Harvest, mas quando eles receberam "World Peace Is None Of Your Business", o chefe da gravadora (Steve Barnett) enviou um memorando a todos da companhia: "Não se comprometam com Morrissey". Sem querer, me incluiu na mensagem! Nesse momento, soube que queriam o álbum, mas não me queriam. Meu advogado confrontou a Harvest e eles tiveram que admitir a verdade. É chocante que uma gravadora em 2014 pudesse descartar um álbum tão magnífico. Não lançaram nada comparável desde então.

    No último ano, você publicou um livro, lançou um disco, superou um câncer... O que planeja para o futuro?

    Foram dois anos muito difíceis, e estou exausto. Não há nenhum interesse substancial de nenhuma gravadora, então após o show em Las Vegas, em 2 de janeiro, não vejo como posso continuar. Poderíamos, na verdade, estar em turnê para sempre, mas isso funciona mais com músicas novas. Acima de tudo, é o progresso –não a nostalgia– que alimenta você emocionalmente.

    MORRISSEY NO BRASIL

    SÃO PAULO
    QUANDO 17 e 21/11, às 22h
    ONDE 17/11: Teatro Renault, av. Brig. Luís Antônio, 411; 21/11: Citibank Hall, av. das Nações Unidas, 17.955; tels. (11) 4003-5588
    QUANTO R$ 140 a R$ 620 (Renault); de R$ 100 a R$ 600 (Citibank)
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

    RIO
    QUANDO 25/11, às 21h30
    ONDE Citibank Hall Rio de Janeiro, av. Ayrton Senna, 3.000, tel. (21) 2156-7300
    QUANTO de R$ 130 a R$ 600
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

    BRASÍLIA*
    QUANDO 29/11, às 20h
    ONDE Net Live Brasília, Setor de Hotéis e Turismo Norte, trecho 2, cj. 5, lote A, Asa Norte, tel. (61) 3306-2030
    QUANTO de R$ 150 a R$ 580
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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