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    CRÍTICA

    'Fome' acerta ao abordar relação entre sem-teto e a SP que os evita

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    23/10/2015 02h47

    Sem pressa, um homem em andrajos perambula pelo centro de São Paulo. Arrasta um carrinho de supermercado com seus parcos pertences. Pelo jeito de andar e pela maneira com que se refresca na fonte da praça da Sé, dá para notar que é um personagem com alguma sofisticação.

    Mais adiante, o mendigo fala com uma jovem pesquisadora e canta em francês. De início, "Fome", de Cristiano Burlan, tem uma atmosfera de documentário. Como no seu premiado "Mataram Meu Irmão", a câmera persegue o protagonista.

    No filme sobre a tragédia em sua família e de uma geração de jovens na periferia paulistana, é o cineasta que percorre as ruelas do Capão Redondo buscando entender o que ocorreu.

    Divulgação
     Filme em preto e branco de Cristiano Burlan, Fome conta história de um morador de ruaA narrativa da obra aborda a invisibilidade dos moradores de rua, por quem passamos despercebidos diariamente
    "Fome", filme do diretor Cristiano Burlan

    Agora, nessa ficção, é Jean-Claude Bernardet, professor e referência no estudo de cinema no Brasil, que encarna o personagem principal. Rebelde e irreverente, ele faz o papel de um... professor de cinema que resolve viver nas ruas para se desintoxicar de si mesmo.

    Nas andanças, ele topa com a pesquisadora que problematiza a forma como a cidade tenta excluir os moradores de rua com sua arquitetura perversa. Ao mesmo tempo, ela questiona o uso da pobreza como matéria-prima acadêmica.

    A academia é também enxovalhada pelo mendigo-ex-professor- universitário. Em preto e branco, com uma bela fotografia e boas tomadas, a fita parece se arrastar, mas depois ganha um certo ritmo. O protagonista se revela um pouco.

    editoria de arte/Folhapress
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    Há ambiguidade em relação à sua condição de pedinte. Em um momento exibe arrogância e agressividade; em outro cede à fome e ao banho quente. Aturdido, ele parece estar num labirinto complexo, de difícil alcance.

    A cidade, estridente vigorosa e excludente, vai ganhando relevo. Se um personagem como o vivido por Bernardet pode ser exceção nas ruas, os sem-teto são uma presença constante na metrópole que tenta evitá-los. Burlan acerta ao trazer o tema.

    FOME
    DIREÇÃO Cristiano Burlan
    PRODUÇÃO Brasil, 2015, 10 anos
    MOSTRA sex. (23), às 21h30 (Cine Caixa Belas Artes - Sala Spcine); sáb.15h15 ( (24), às 16h (Matilha Cultural); qui. (29), às 15h15 (Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca 1)

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