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    Exposição no Masp resgata criticismo do argentino León Ferrari

    NINA RAHE
    DE SÃO PAULO

    27/10/2015 02h40

    Quase toda vez que se fala do argentino León Ferrari, morto em 2013, aos 92 anos, um aposto segue após seu nome –a informação de que ele foi considerado pelo "New York Times" um dos cinco artistas mais importantes e provocadores do mundo.

    Em entrevista concedida no último ano de sua vida, quando questionado sobre o título, Ferrari riu e fez que não deu bola: "Não acho que exista 'New York Times', nem 'Le Monde', nem ninguém que possa consagrar uma pessoa. O que talvez possa um pouco é a obra que ela faz", disse.

    E é parte dessa produção, que de fato o consagrou, que estará exposta até dia 21 de fevereiro de 2016 no Masp (Museu de Arte de São Paulo), preenchendo duas salas da galeria do primeiro subsolo.

    O argentino, por mais inusitado que pareça, é o artista contemporâneo que possui maior representatividade em número de obras no acervo da instituição, segundo os curadores Julieta González e Tomás Toledo.

    Divulgação
    Obra de León Ferrari que estará em exposição no Masp ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    "Autopista del Sur", obra de 1981 doada por León Ferrari ao Masp

    Antes de deixar o Brasil –onde se exilou por 15 anos, de 1976 a 1991, após ter um filho sequestrado e morto no regime ditatorial da Argentina–, Ferrari fez doações de trabalhos para a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte Contemporânea e o Masp, para o qual cedeu 81 peças, que incluem impressões em xerox, gravuras e desenhos.

    À exceção de duas pinturas da década de 1990, um objeto, duas esculturas e uma série de xerox, todas podem ser vistas na exposição "León Ferarri: Entre Ditaduras", que possui o mérito de apresentar pela primeira vez os trabalhos em conjunto.

    "Quisemos concentrar no período em que León esteve no Brasil, porque ele fugiu de um regime ditatorial para um país que também estava vivendo sob ditadura", explica Julieta, curadora-adjunta no Masp e curadora chefe do Museu Jumex, na Cidade do México.

    O argentino, cujo pai era um artista italiano que pintava afrescos em igrejas, ajudando também a construi-las e restaurá-las, chegou a dizer que existem duas formas de se fazer arte: uma, completamente inofensiva; outra, contestatória, política, contra o poder e contra a religião.

    BLASFEMO

    As obras produzidas no período em que viveu no Brasil, certamente, fazem parte desse segundo time, dando continuidade à forma de pensamento do artista que tem como sua peça mais famosa "A Civilização Ocidental e Cristã", de 1965 –um avião de bombardeio americano com uma estátua de Cristo fixada nele.

    Em 2004, inclusive, Ferrari foi chamado de "blasfemo" pelo papa Francisco, na época ainda arcepisbo Jorge Mario Bergoglio.

    Divulgação
    Obra de León Ferrari que estará em exposição no Masp ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Obra "Duas Ruas", de León Ferrari; criada em 1981, é agora exposta no Masp

    Entre os trabalhos exibidos no Masp, o artista critica nas séries "Parahereges" (1986) e "Parahereges II" (1988) o conservadorismo da Igreja Católica, justapondo imagens renascentistas a cenas eróticas e passagens apocalípticas ao sexo explícito.

    Já em algumas obras que pertencem a "Xerox" (1972-1986), Ferrari povoa edifícios e labirintos com a representação da figura humana repetida à exaustão, uma forma de discutir o controle da população e sua regulamentação pelo Estado.

    Os desenhos seduzem o espectador pelo nível de detalhes e exigem atenção, causando uma absorção quase religiosa.

    ENTRE DITADURAS
    QUANDO ter. a dom., das 10h às 18h; até 21/2/2016
    ONDE Masp, av. Paulista, 1.578, tel. (11) 3149-5959
    QUANTO R$ 12 a R$ 25, grátis às terças, durante todo o dia, e às quintas, a partir das 17h

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