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    OPINIÃO

    Nós, homens, somos os reais marcianos em 'Perdido em Marte'

    MARCELO GLEISER
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    27/10/2015 02h30

    É difícil assistir ao filme "Perdido em Marte" sem se emocionar. Um astronauta sozinho, usando todos os recursos que pode imaginar para se manter vivo num planeta hostil, é uma metáfora poderosa, símbolo da individualidade de cada um de nós.

    Também lutamos –muitas vezes sós– pela nossa sobrevivência física e emocional numa vida que nem sempre é fácil e aconchegante. O filme, dirigido por Ridley Scott ("Blade Runner") e baseado em romance de Andy Weir de 2011, é um elogio à criatividade humana.

    É bom lembrar que 10 mil anos atrás mal havíamos desenvolvido técnicas agrárias. Hoje, lançamos sondas aos confins do sistema solar, incluindo nosso misterioso vizinho vermelho. E elas nos trazem imagens surpreendentes, habilmente usadas no filme.

    Cânions de milhares de quilômetros de extensão, leitos de antigos rios e vulcões extintos provam que Marte era um mundo muito diferente na sua infância, onde a água fluía em abundância, e a atmosfera era bem mais espessa.

    Hoje, Marte é um deserto gelado, com tempestades de areia terríveis e atmosfera fina (96% de gás carbônico), incapaz de bloquear a radiação ultravioleta que vem do sol.

    Mesmo com a descoberta de água líquida na superfície marciana, a vida lá é improvável. Somos nós os marcianos. O filme é um contraste entre a hostilidade da natureza e a gana que temos pela vida.

    O astronauta Mark Watney (Matt Damon, excelente) nunca perde sua humanidade. Une o bom humor a um enorme conhecimento científico (a botânica que usa para plantar batatas é uma das muitas áreas que domina) para suplantar dificuldades absurdas.

    Em meio à ficção científica, encontramos uma mensagem poderosa: heróis não são apenas os que lutam em guerras, mas os que redefinem os limites do possível –incluindo astronautas e cientistas.

    PERDIDO EM MARTE
    DIREÇÃO Ridley Scott
    PRODUÇÃO EUA, 2015, 12 anos
    ELENCO Matt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig
    QUANDO em cartaz

    MARCELO GLEISER é professor titular de física, astronomia e filosofia natural no Dartmouth College, EUA. Seu livro mais recente é "A Ilha do Conhecimento" (Record).

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