Se Alexander DeLarge fosse uma lhama fofa, talvez os "drugues" de "Laranja Mecânica" não seriam tão aterrorizantes. Lorena Kaz, artista gráfica carioca de 32 anos, imaginou como seria o protagonista do clássico de Stanley Kubrick se travestido no ruminante felpudo. DeLarge está em "Uma Lhama no Cinema", coletânea de ilustrações a ser lançada nesta terça (10), em São Paulo.

Fazem companhia ao líder do grupo ultraviolento outros personagens clássicos, como Darth Vader, vilão de "Star Wars"; Neo, o escolhido na saga "Matrix"; James Bond, agente secreto da franquia "007" e até mesmo Rose e Jack, o casal hiperglicêmico de "Titanic".

O livro não é uma declaração de amor ao cinema, apenas; é uma declaração de amor à lhama. Lorena é apaixonada pelo mamífero. Tanto que, em março deste ano, criou uma página no Facebook dedicada ao animal. Com quase 22 mil fãs, "Uma Lhama por Dia" —como sugere o nome— traz diariamente uma lhama fazendo cosplay de algo. Até mesmo Simone de Beauvoir, em alta depois que um trecho de sua principal obra, "O Segundo Sexo", caiu na prova do Enem, ganhou uma versão dias atrás.

Lhama como Simone de Beauvoir, de Lorena Kaz

"Morei no Equador aos 20 anos, mas acho que meu amor por lhama é anterior a isso", diz a ilustradora. "Comecei a desenhar lhamas e recebi muitas mensagens de gente dizendo que também adorava." Abusando um pouco da metafísica, Lorena acredita que, num mundo cheio de amantes de cães e gatos, a lhama é "a representação do 'underground', dos excluídos".

ARTE NOS GENES

Os desenhos nasceram de uma frustração: durante uma viagem à Bolívia, Lorena descobriu que, se quisesse presentear parentes com algo tradicional do lugar e relacionado ao animal, teria de se contentar a luvas e gorros feitos com o pelo de lhama. "Pensei 'eu mesmo vou fazer uma lhama para cada familiar'." Então surgiram lhamas tocando violão, correndo ou experimentando sapatos.

Filha do diretor de arte Gê e sobrinha do desenhista Ziraldo, Lorena não poderia fazer outra coisa a não ser desenhar. "Meus pais desenham muito bem, a minha avó materna era pintora...", diz.

Assim, há 12 anos, Lorena começou a fazer quadrinhos. Depois, passou a ilustrar livros pedagógicos —"eu desenhava cérebros"— e, com o tempo, tornou-se ilustradora de livros infantis. A experiência nas diversas áreas levou Lorena a ser bastante versátil e adotar traços variados, a depender do trabalho que assume. Vai do hiper-realismo aos contornos simples de HQs sem muita dificuldade. Para os 70 desenhos de "Uma Lhama no Cinema", Lorena escolheu traços de quadrinhos.

UMA LHAMA NO CINEMA
AUTORA Lorena Kaz
EDITORA Conrad
QUANTO R$ 23,90 (144 págs.)
LANÇAMENTO terça-feira (10), às 19h, na Livraria Blooks - Shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, tel. 11-3259-2291)