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    CRÍTICA

    Longa de terror 'Amizade Desfeita' se esgota em narração virtual

    ANDRÉ BARCINSKI
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    13/11/2015 02h28

    No futuro, quando estudiosos pesquisarem a indústria do cinema do século 21, "Amizade Desfeita" será citado como o primeiro filme em que as redes sociais não afetaram apenas a temática de um filme, mas sua estética. É um produto engenhoso e feito de encomenda para um público-alvo específico e numeroso: jovens que gostam de cinema de terror e não conseguem se relacionar sem a ajuda do mundo virtual.

    Dirigido pelo russo Levan Gabriadze, o filme é um sucesso impressionante. Custou US$ 1 milhão e já rendeu, no mundo todo, quase 63 vezes seu orçamento.

    O longa tem 83 minutos e é inteiramente narrado a partir da tela do computador de uma jovem. O écran do cinema é ocupado pela tela de um Macbook, e toda a "ação" –chats, trocas de e-mails, pesquisas no Google e conversas via Skype– acontecem ali. Não há cenas externas, a não ser algumas sequências de vídeos trocados entre os internautas.

    Divulgação
    Cena de 'Amizade Desfeita', de Levan Gabriadze ORG XMIT: smsEs_xOjwYehJu9pnCj ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cena de 'Amizade Desfeita' vista como se o espectador estivesse em seu computador pessoal

    A história gira em torno do suicídio de uma adolescente, Laura Bairns (Heather Sossaman), que se matou com um tiro depois que um vídeo comprometedor foi postado no Facebook. Um ano depois da tragédia, cinco colegas de classe de Laura fazem um chat via Skype, quando são incomodados pelo que aparenta ser um hacker.

    O suspense aumenta quando a figura começa a enviar perguntas para os participantes, seguidas por ameaças. Finalmente a figura se identifica: é Laura Bairns. Será um trote? Algum maldoso que entrou na conta de Laura e está assustando seus colegas?

    MENSAGENS DE MORTOS

    A coisa funciona bem por uns dez ou 15 minutos, e o filme consegue construir um clima envolvente de mistério. Quem é essa figura que se faz passar por uma menina morta? Será o espírito de Laura Bairns? Um dos participantes do chat compartilha um site sobre mensagens do além-túmulo, em que uma frase se destaca: "Não responda a mensagens de mortos". Tarde demais. Os cinco já estão falando com "Laura".

    O problema é que o filme se resume a isso: uma hora e vinte e três minutos de ação virtual. Os sustos vêm quando um personagem abre um e-mail com um vídeo chocante ou alguém é subitamente atacado por um espírito (ou pessoa?) que surge de repente.

    É o que a crítica norte-americana Pauline Kael chamava, em uma brincadeira com a expressão "Filme B", de "Filme Bu": aquele que assusta não pelo clímax de uma cena bem construída, mas por chocar o espectador com fantasmas que pulam na tela.

    É uma pena. "Amizade Desfeita" fala de temas que sempre geraram grandes histórias de terror: a maldade de adolescentes com seus pares, bullying, tensão sexual e competição na escola ("Carrie "" A Estranha" é um bom exemplo). Mas ao abdicar do cinema para fazer um filme por Skype, o diretor abusa do artifício e perde toda a tensão e medo que a história poderia criar.

    AMIZADE DESFEITA
    DIREÇÃO Levan Gabriadze
    ELENCO Shelley Hennig, Moses Jacob Storm, Renee Olstead
    PRODUÇÃO EUA, 2014, 16 anos
    QUANDO em cartaz

    ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor de "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas)

    Edição impressa

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