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    CRÍTICA

    Sobriedade se revelou correta diante de história tão fantástica

    RICARDO CALIL
    CRÍTICO DA FOLHA

    13/11/2015 02h32

    "Aliança do Crime" tem a vantagem inicial, e nada desprezível, de ser um filme de gângster que não lembra nem Coppola ("O Poderoso Chefão") nem Martin Scorsese ("Os Bons Companheiros").

    Não há nada no filme que remeta diretamente ao tratamento operístico do primeiro nem à abordagem pop do segundo em relação ao mundo do crime. Nesse sentido, talvez ajude um pouco o fato de o protagonista ser um gângster irlandês –o que permite fugir da caricatura que se tornou a figura do mafioso italiano no cinema.

    Mas, não, isso seria tirar o mérito do filme. O diretor Scott Cooper ("Coração Louco") optou por uma narrativa sóbria, até mesmo fria –que se revelou uma escolha acertada, porque a história real em que se baseou já era suficientemente fantástica.

    "Aliança do Crime" mostra a trajetória do maior gânster da história do sul de Boston, James "Whitey" Bulger (Johnny Depp). Dois fatores quase inacreditáveis ajudaram-no a alcançar tal posto. Primeiro, seu irmão mais novo, William Bulger (Benedict Cumberbatch), era um influente político e se tornou senador pelo Partido Democrata.

    Segundo, e ainda mais impressionante, "Whitey" trabalhou como informante para o FBI durante 15 anos –uma proposta feita pelo agente John Connoly (Joel Edgerton), um amigo de infância do gângster, para tentar eliminar a máfia italiana de Boston.

    Divulgação
    Créditos: Divulgação Legenda: Cena do filme ALIANÇA DO CRIME ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Johnny Depp como o gângster Whitey Bulger em "Aliança do Crime"

    Esse estranho acordo permitiu que "Whitey" tivesse uma espécie de imunidade para expandir seus negócios ilegais. O problema é que ele era um psicopata e saía matando qualquer um que atrapalhasse seus planos –algo que Connoly precisava esconder para conseguir prender os italianos e ascender no FBI.

    Essa simbiose "profissional" entre o mafioso e o agente –que lembra a fábula do sapo e do escorpião que atravessam juntos um rio– é muito bem conduzida. Já a relação entre "Whitey" e o irmão senador é pouco e mal explorada.

    Sob uma maquiagem pesada que o deixou mais parecido com o lagarto de "Rango" do que com o garoto de "Anjos da Lei", Johnny Depp não busca a empatia fácil do público.

    Da mesma forma que a direção do filme, sua interpretação é marcada pela sobriedade. Ele nos oferece um "Whitey" com muita desconfiança e pouco carisma, um ser desagradável, à beira da repugnância.

    Para uma grande produção hollywoodiana, a opção do diretor e do protagonista por uma certa secura, por uma visão clínica do universo e do personagem retratados, pode ser vista como arriscada.

    O longa é uma obra sem firulas vistosas para entreter o espectador –o que torna a experiência menos agradável, porém mais duradoura.

    ALIANÇA DO CRIME (Black Mass)
    DIREÇÃO Scott Cooper
    ELENCO Johnny Depp, Benedict Cumberbatch, Dakota Johnson
    PRODUÇÃO EUA, 2015, 16 anos
    QUANDO em cartaz

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