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    CRÍTICA

    Com soluções frágeis, longa faz bom retrato dos conflitos médicos

    RICARDO CALIL
    CRÍTICO DA FOLHA

    13/11/2015 02h30

    O começo de "Hipócrates" não é muito auspicioso. O filme parece se filiar ao grupo de produções francesas que tenta emular, de maneira desajeitada, as hollywoodianas.

    Nas primeiras cenas, o protagonista Benjamin (Vincent Lacoste), residente na unidade de um hospital comandada pelo pai, é apresentado como um rock star da medicina.

    Cortes rápidos, trilha sonora pop, dancinhas nos corredores... tudo nos leva a crer que estamos diante da versão francesa, e piorada, de séries médicas americanas como "Grey's Anatomy" e "Scrubs".

    Mas logo fica claro que é um artifício utilizado pelo diretor Thomas Lilti, que é também médico (ele exerce as duas profissões paralelamente).

    No começo, o filme se cola ao olhar ingênuo de Benjamim. Mas logo o protagonista leva um choque de realidade.

    Divulgação
    Creditos: Divulgação Legenda: Cena do filme HIPOCRATES ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Vincent Lacoste como o protagonista Benjamin do longa

    Seu cotidiano é repleto de dilemas éticos, de politicagens e corporativismos, de relações culpadas com pacientes e competitivas com colegas –sobretudo o argelino Abdel (Reda Kateb), mais humanista e competente que ele.

    Em dado momento, Benjamin comete um erro acobertado pelo pai e descoberto por Abdel. Em outro, é coagido a se livrar de uma paciente terminal para desocupar o leito.

    São episódios que afastam Benjamin do juramento de Hipócrates, da promessa de exercer a profissão da maneira mais honesta possível.

    Aos poucos, o filme se afasta das matrizes americanas para firmar uma personalidade própria, menos interessada no diagnóstico dos pacientes e mais no contexto político e econômico da medicina.

    Ainda assim há soluções frágeis: a oposição entre Benjamin, o filhinho de papai, e Abdel, quase um santo, é um tanto binária. Mas "Hipócrates" se beneficia muito do olhar de conhecedor de Lilti.

    Apesar de tratar da realidade da França e ser feito para todos os públicos, é um filme que merece ser visto por médicos brasileiros –que verão seus conflitos diários tratados de maneira menos simplista do que no noticiário.

    HIPÓCRATES (Hippocrate)
    DIREÇÃO Thomas Lilti
    ELENCO Vincent Lacoste, Reda Kateb
    PRODUÇÃO França, 2014, 12 anos
    QUANDO em cartaz

    Edição impressa

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