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    Amaury Jr., amado por Panicats e João Gilberto, ganha livro 'semiautorizado'

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    15/11/2015 02h11

    "A Vida É uma Festa" biografa a vida que nem sempre é uma festa do colunista social mais famoso da TV.

    Amado por Panicats e João Gilberto, ele vive há 35 anos sob o lema "enquanto houver champanhe, há esperança", prescrito pelo colega Zózimo Barrozo do Amaral (1941-1997).

    Mas hoje ele se pergunta: e agora, Amaury? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu. As festanças, diz o apresentador do "Programa Amaury Jr." (RedeTV!), "estão acabando". Donos de bufê como o Charlô (arroz de pato para 10 a 15 pessoas a R$ 880) "devem estar tudo passando fome".

    São raras as farras com cascata de champanhe Cristal (cerca de R$ 2.000 a garrafa), lamenta à Folha o colunista de 65 anos. "Veuve Clicquot, só tomo na casa de amigo rico. A decoração caiu. Querida, festa bonita tem que ter flores."

    Digere o desgosto com três cafés adoçados por aspartame (emagreceu 14 quilos com o remédio Xenical). Em sua produtora, nos Jardins paulistanos, dá uma banana para esta ideia em voga: "Dizem que o mercado de luxo não está sofrendo a crise. Ó que não está".

    Fala por experiência própria. Já teve 105 "black-ties". Hoje, apenas oito no armário.

    Nos bons tempos, de "vaidades excessivas hoje alojadas no fígado", chegavam-lhe até oito convites por noite. "O ano de 2015 foi muito difícil comercialmente. Meu programa sempre passou ao largo das crises. Desta vez, não. Pegou feio."

    Desfez-se de uma de duas casas nos Jardins. Recorre ao assistente: "Ô Rubens, que mais enxugamos?" Demitiram dez de 54 funcionários.

    "Só tô ganhando dinheiro para pagar conta, a minha e a da equipe. Não sobra mais um para guardar na gaveta." Calcula faturar com seu programa meio milhão de reais por mês, mais um salário simbólico da RedeTV! ("uns R$ 1.000").

    Por isso tem evitado bancar hotel e avião para entrevistados –agora aproveita se por acaso eles já estão na cidade.

    Na segunda (9), esperava para ver se um deles embarcaria até SP: o numerólogo Gilson Chveid Oen, que receitou mudanças de nome a Sandra de Sá (ex-Sandra Sá) e Jorge Ben Jor (antes, só Jorge Ben).

    ("Amaury Jr." foi aprovado por Gilson, ele conta. "Não precisei mudar uma letra.")

    Outra fonte de renda no volume morto: os "infomerciais", como chama ações comerciais que se confundem com reportagem. Exemplo: um hotel inaugura, e ele vai lá filmar a suíte presidencial. "O cara me quer na venda do peixe dele."

    "As poucas pessoas que fazem não estão querendo mais. Gastam bilhões num empreendimento, e ele fica escondido."

    Para compensar, Amaury entrou no filão de virais (campanhas feitas para as redes sociais). Em 2014, fez sucesso um vídeo em que canta um rap de Gabriel, o Pensador, vestido de Hebe Camargo e Chiquinho Scarpa. Descobriu-se depois que era ação promocional de uma marca de biscoitos (ele embolsou R$ 80 mil).

    A BIOGRAFIA

    Nas contas de Amaury Jr., foram 50 mil entrevistas em 35 anos de carreira. Já compartilhou indiscrições "de todos os tempos" em livros como "Bisbilhotices" (Jaboticaba, 2005), no qual não escapam nem Beethoven ("é possível que sofresse de sífilis") e Shakespeare ("gostava de haxixe").

    Chegou a vez de virar ele o escrutinado, em livro produzido por sua sugestão pelo jornalista da "Veja" Bruno Meier.

    Gostou? Não sabe dizer. Não leu. "Tô puto. 'A Vida É uma Festa' é a primeira biografia semiautorizada do país."

    Após 50 entrevistas com o biógrafo, alguns noite adentro com champanhe Cristal, acreditou "estar implícito" que acessaria o livro antes da publicação. O autor não deixou.

    "É um livro-reportagem. Como toda reportagem, não passa pelo entrevistado antes", afirma Meier. "Ele entende, mas não concorda muito. E ri!"

    O homem que começou nas rodas sociais de São José do Rio Preto (SP) se resigna. "Pode falar o que quiser que não tô nem aí. Que tive sete gonorreias [na juventude]? Isso se pegava que nem gripe."

    Amaury Jr. não está resfriado, não mais. Mas teve depressão em 2008. Começou dentro do avião, rumo ao Canadá, onde foi cobrir "o maior rodeio do mundo". Até hoje toma o antidepressivo Cymbalta.

    Na TV, é a síntese da felicidade. Pense numa celebridade. Amaury já deve ter arrancado uma pérola dela.

    Paulo Coelho? Fumaram às escondidas numa festa de Lily Marinho no Palácio de Versalhes, decorado com bananas e carambolas, em 2005. "Não tem ninguém, foda-se", disse ao escritor antes de sentarem na cama do rei Luís 16º.

    Ana Maria Braga? Começou como sua assistente de palco em Rio Preto, após um concurso de sósias de Brigitte Bardot.

    Narcisa Tamborindeguy? Amaury flagrou uma cena em que a socialite pula, e seu mamilo salta para fora do vestido.

    João Gilberto? Orgulha-se de ter conseguido a última entrevista de TV com o baiano, num camarim, 24 anos atrás. "João é um puta notívago. Com o 'Flash' [na Record], eu era o seu companheiro na madrugada".

    Lendário recluso, João disse sim a Amaury. "Uma tia dele incentivava: 'Fala, o menino é bacana!'. Na hora H, João se trancou no banheiro. Nelson Motta e Elba Ramalho tiveram de tirar ele de lá."

    Das poucas palavras que o bossa-novista emitiu: "Seu programa é uma beleza. Nos alegra muito, né, Nelsinho?".

    Para Amaury, a palavra celebridade "foi absolutamente banalizada". Estamos na era das "celebutantes", diz. Assim se refere a subcelebridades, como a nova parceira de Chimbinha, ex-Joelma. Tem horror a reality show ("não vejo, acho uma merda"), embora entreviste ex-participantes.

    O que é cafona para ele? "É perguntar o que é cafona." A Folha não passou no teste.

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    VOU FESTEJAR Amaury dá dicas para um evento de sucesso

    UÍSQUE E 'CHAMPA'
    O último grande casamento que foi tinha cascata do espumante francês Cristal (média de R$ 2.000 a garrafa). Um uisquinho também é essencial

    SOM NA CAIXA
    "Esquecem a música. Cadê a música dessa porra? Cadê o DJ?", diz no livro. Para ele, o casamento do cardiologista Roberto Kalil foi certeiro, com Tiago Abravanel animando a pista. "É claro que na hora do jantar não dá para colocar uma música muito para cima. Se for de jazz, não tem erro"

    DECORAÇÃO
    Um "pecado": espaços grandes demais, que deixam a impressão de festa vazia. Acha o decorador Sig Bergamin "maravilhoso"

    A Vida é uma Festa
    Bruno Meier
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    BUFÊ DO BOM
    Nada de croquete de padaria. Amaury Jr. indica serviços como o Charlô (arroz de pato para 10 a 15 pessoas a R$ 880) e Capim Santo (até R$ 118 por cabeça), marca da chef Morena Leite

    MIX DE CONVIDADOS
    Um pouco de político, muita gente de TV, gays 'falantes' e pessoas do momento. "Fui num evento com Eduardo Cunha, e ele não foi xingado, até deu autógrafo. Capaz do juiz Lalau voltar e dar autógrafo [A dinâmica] é uma coisa muito esquisita", diz

    *

    A VIDA É UMA FESTA
    AUTOR Bruno Meier
    EDITORA HarperCollins Brasil
    QUANTO R$ 26,90 (224 págs.)

    Edição impressa

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