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    Filha da poesia marginal, Ana Cristina César será homenageada na Flip 2016

    MAURÍCIO MEIRELES
    COLUNISTA DA FOLHA

    13/11/2015 18h00

    O par de óculos escuros mais famoso da poesia brasileira vai desfilar pelas ruas de pedra. É que a próxima edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que acontece de 29 de junho a 3 de julho de 2016, resolveu homenagear uma moça carioca fora do cânone literário: a poeta Ana Cristina César.

    O anúncio foi feito na tarde desta sexta-feira (13), pela organização do evento literário, que, depois de prestar tributo a Mário de Andrade neste ano, agora resolveu apostar em um nome com menos cara de medalhão. É uma autora famosa pela poesia, mas que também deixou uma produção em prosa, caso de seus ensaios.

    "A Flip tem isso mesmo. Uma hora pega um autor já consagrado, em outra um autor que está em processo de consagração. É o caso da Ana Cristina e do Millôr Fernandes [homenageado em 2013]", afirma Paulo Werneck, curador da festa literária.

    Ana C., como gostava de ser chamada, morreu aos 31 anos e por isso deixou uma obra curta —mas não por isso menos cultuada pelas novas gerações. Hoje, essa obra está completa em "Poética", organizada por Armando Freitas Filho —melhor amigo da escritora— e lançada pela Companhia das Letras em 2013.

    Luciana Whitaker/Folhapress
    RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 07-08- 2013, 14h30: Reproduções do acervo do Instituto Moreira Salles. ACC em 1982 (fotos da pasta 108, ela na janela, saiu na Isto É). (Foto: Luciana Whitaker/ Folhapress, ILUSTRADA) - Ana Cristina Cesar
    A poeta carioca Ana Cristina Cesar, em 1982

    Ana Cristina é um nome que surgiu na geração mimeógrafo, no seio da chamada poesia marginal. A autora estava na hoje mítica antologia "26 Poetas Hoje", lançada nos anos 1970 por Heloísa Buarque de Hollanda. Fazia parte da mesma turma de Cacaso, Chacal, Torquato Neto e Francisco Alvim, entre outros.

    "Há muita coisa para investigar nela. Ela e sua geração fizeram uma releitura do Drummond, por exemplo, essencial para a poesia hoje", diz Werneck. "Sem ela, hoje não existiriam Alice Sant'Anna, Bruna Beber e Ana Martins Marques."

    As poesias mimeografadas tinham tudo a ver com o contexto de ditadura. Com a censura, era mais fácil fazer edições artesanais, fora dos circuitos comuns de produção cultural. Assim, os livros eram vendidos de mão em mão.

    Tanto que a primeira obra da poeta publicada comercialmente foi "A Teus Pés" (1981), pela Brasiliense, seu livro mais famoso. Mas era um volume que trazia poemas que já haviam circulado em edições artesanais como "Cenas de Abril" (1979) e "Correspondência Completa" (1979) e "Luvas de Pelica" (1980).

    Ana e sua geração usavam a coloquialidade, recebendo influência do cinema e da cultura pop —mas sem que isso escondesse a grande erudição da autora. Com essa linguagem, os poetas marginais renovavam a proposta estética do modernismo de 1922.

    "Ela pertence a última geração que se consagrou na poesia brasileira. É um trabalho que ainda ressoa na poesia contemporânea", afirma Werneck.

    O acervo de Ana Cristina César está guardado, hoje, no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro. São mais de 600 itens arquivados —de onde, com os holofotes sobre a autora, ainda podem brotar inéditos.

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