• Ilustrada

    Monday, 29-Apr-2024 09:22:32 -03

    Precursor do palavrão, humor negro de 'Hermes e Renato' retorna à TV

    RODOLFO VIANA
    DE SÃO PAULO

    15/11/2015 02h02

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Retrato dos integrantes do grupo humorístico Hermes e Renato no escritório da FOX, em SP
    Retrato dos integrantes do grupo humorístico Hermes e Renato no escritório da FOX, em SP

    Durante a sessão de fotos desta reportagem, Felipe Torres —o antológico Boça, um paulistano infantilizado— cortava as unhas do pé sem se importar com as outras seis pessoas no recinto. Não era pose para o retrato: ele realmente aparava o dedão com uma tesoura escolar. No retorno à TV depois de mais de dois anos afastado, o quarteto do "Hermes e Renato" se sente em casa, agora no novo canal do programa, o FX.

    A próxima temporada estreia na quinta (19). Serão 30 minutos de humor politicamente incorreto —símbolo da trupe, que, com palavrões e sem pudores, marcou o humor brasileiro quando surgiu na MTV Brasil, em 1999.

    O piloto foi entregue em junho de 2014, um mês antes de Fausto Fanti, cocriador do programa, ser encontrado morto, aos 35. "A gente gravou com ele", diz o irmão Franco Fanti, novo integrante. Nesta temporada, Fausto aparece em esquetes e homenagens.

    A morte de Fausto foi um dos motivos do atraso nas gravações, que ocorreram em 38 dias entre o fim de novembro de 2014 e janeiro deste ano.

    Outra razão foi a participação ostensiva do grupo em todas as etapas de produção para "manter o padrão de qualidade 'Hermes e Renato'", diz o integrante Adriano Pereira.

    O programa deve trazer de volta figuras e esquetes conhecidos —como Boça, Joselito e o "Documento Trololó" (versão zoeira de "Globo repórter")—, além de criações recentes, caso de João Krepe (paródia do apresentador João Kleber) e Saulo Botelho (escritor, arqueiro e mago).

    Mas podemos dar adeus aos personagens-título do programa. Ainda que houvesse Fausto, não haveria mais Renato: "Ele não queria mais fazer [o personagem]", diz Franco. "A gente achou que já tinha satirizado tudo que era possível, que começaria a ser repetitivo", afirma Marco Antônio, o Hermes.

    PRECURSORES DO PALAVRÃO

    Não eram comuns os palavrões nos humorísticos brasileiros em 1999, quando o país gargalhava com Caco Antibes ("Sai de Baixo") e Bussunda ("Casseta e Planeta").

    Mas "Hermes e Renato", o grupo de moleques que surgiu na MTV Brasil naquele ano, por trás de bigodes fajutos e óculos aviador dos anos 1970, não media baixarias.

    "O grupo abriu portas para esse tipo de humor", diz Franco Fanti, novo integrante do programa, que retorna à TV com 600 personagens em cem esquetes. "Antes da gente não havia quem falasse palavrão."

    Nomes da nova geração do humor brasileiro já afirmaram a importância do grupo —entre eles, Gregorio Duvivier, Tatá Werneck e Marcelo Adnet.

    Felipe Torres, outro integrante, lembra do humorista típico daquela época como alguém "com muita bagagem, mas pouca espontaneidade". "A nossa proposta era algo mais 'galera da rua'."

    INCORREÇÃO MORAL

    Segundo Eduardo Zebini, vice-presidente sênior da Fox International Channels, o estilo de comédia politicamente incorreta do quarteto, agora formado por Felipe, Marco Antônio Alves, Adriano Pereira e Franco Fanti, tem "a cara e a identidade do canal".

    "A gente não se preocupa com o politicamente correto, mas sim com o bom senso", diz Felipe.

    Adriano, o Joselito —sujeito sem noção que distribui pancadas—, acredita que o grupo vai ao limite, mas nunca ultrapassa a barreira entre zoeira e injúria. "Somos críticos, e sempre há a preocupação de não ser ofensivo."

    De que maneira explicar, então, personagens como Charlinhos, o menino pobre com notório atraso intelectual que acaba sacaneado pelo repórter do esquete "Jornal Jornal"? Isso não ofenderia quem vive em condições iguais?

    "Às vezes a gente trata de um tema polêmico para enfocar a relação das pessoas com ele", diz Adriano. "No caso, o zoado não é o garoto, mas a imprensa sensacionalista que usa isso para ter audiência."

    Para Franco, não tem como dizer que "Hermes e Renato" discrimina pessoas e grupos específicos: "A gente zoa rico, pobre, gay, machão, tudo! A gente privilegia é a sátira."

    De fato, o deboche é o coração de "Hermes e Renato": no começo, na MTV Brasil; em 2010, como parte do programa "Legendário", na Record; em 2013, novamente na MTV; e agora, 16 anos depois, no FX.

    Além de sátira, haverá, ao final dos capítulos, uma homenagem a Fausto Fanti, intérprete do personagem Renato. Ele participou da criação da série, escreveu os roteiros da nova temporada e esteve na gravação do piloto, em junho de 2014. No mês seguinte, foi encontrado morto, aos 35, em seu apartamento, no bairro paulistano de Perdizes.

    As gravações começariam em agosto do ano passado, mas foram adiadas pela tragédia. "A Fox [dona do FX] deu a opção de continuarmos o projeto ou não", conta Franco. Mas em momento algum o quarteto cogitou abandonar de vez o programa.

    "Pegamos a gravação [com Fausto] e espalhamos pela temporada", diz Franco. Com isso, mais da metade dos episódios terá a participação do ex-integrante. "Ele fazia parte da essência disso tudo. Para sempre será a alma de 'Hermes e Renato'."

    NA TV
    "Hermes e Renato"
    Estreia do programa
    QUANDO qui. (19), às 22h, no FX

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024