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    Primeiro romance de Ernest Cline é distopia virtual com visão otimista

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    14/11/2015 02h18

    Ernest Cline, 43, diz que nunca engoliu muito o conceito de inteligências artificiais más dominando o planeta.

    "Algumas das histórias de ficção científica mais sensacionais de todos os tempos giram em torno dessa ideia", diz. "Mas, na verdade, o que a gente está fazendo hoje equivale a construir uma 'Matrix' que não vai precisar forçar a humanidade a se plugar: estamos nos conectando voluntariamente e, talvez, sem querer sair."

    Cline fez sua parte nesse experimento, ao menos do ponto de vista imaginativo, ao escrever "Jogador Número 1", seu primeiro romance, recentemente relançado no Brasil. No livro, o adolescente Wade Watts, órfão e morador de um estacionamento-favela no ano 2045, só consegue ter algum tipo de vida ao se plugar no Oasis, mistura de jogo on-line e realidade virtual que inclui até aromas.

    No entanto, o jogo está longe de ser um habitat exclusivo de adolescentes sem grana e vida social: todo mundo o visita, erodindo de tal maneira as fronteiras entre o real e o virtual que a moeda mais forte do planeta não é o dólar, mas a usada para comprar armaduras e espadas mágicas virtuais.

    Dan Winters
    Retrato do escritor Ernest Cline. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Ernest Cline, autor de "Jogador Número 1"

    Na trama, o Oasis é tão atraente, em parte, porque o mundo real vai de mal a pior. "Jogador Número 1", portanto, pode ser considerado mais um dos universos distópicos que conquistaram fãs nos últimos anos, como "Jogos Vorazes".

    "Acho que a atração por essas tramas não é tão recente assim. Veja o 'Mad Max' original", pondera Cline. "Esse fascínio tem dois lados. Um é que, se você mora numa região decente, não falta comida e a política mais arriscada que vai enfrentar é a do escritório. É atraente imaginar um mundo no qual, na prática, viramos caçador-coletor de novo."

    Por outro, diz, "num planeta em que ameaças como superpopulação e aquecimento global começam a dar as caras, é natural ser pessimista."

    Paradoxalmente, o livro aposta no otimismo: Wade e seus aliados lutam para que o Oasis vire uma utopia digital, em que grandes corporações não possam ditar as regras.

    O escritor diz ver ao menos parte da vida on-line de hoje com otimismo semelhante. "É inegável que a internet está se transformando num tremendo motor de mudanças sociais, com uma enorme capacidade de quebrar barreiras."

    Quem não está interessado nas implicações filosóficas da trama, por outro lado, pode simplesmente curtir "Jogador Número 1" e o segundo romance de Cline, "Armada" (leia crítica ao lado), como enormes "caças ao tesouro", recheadas de referências à cultura pop dos anos 1980. O escritor diz que os games mudaram sua vida.

    O autor conta que já assinou um acordo para escrever seu terceiro romance. "Mas o tema, por enquanto, é segredo, e eu ainda não comecei. Neste exato momento estou trabalhando no roteiro da adaptação de 'Armada' para o cinema."

    Por sua vez, a versão cinematográfica de "Jogador Número 1" tem até data de estreia: 15 de dezembro de 2017, com direção de Steven Spielberg. A menção ao diretor de "Indiana Jones" faz aflorar o lado "fanboy" de Cline. "Às vezes eu ainda não acredito que ele vai dirigir um filme baseado no meu trabalho."

    JOGADOR NÚMERO 1

    AUTOR Ernest Cline
    TRADUÇÃO Carolina Caires
    EDITORA LeYa
    QUANTO R$ 39,90 (464 págs.)

    Edição impressa

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