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    CRÍTICA

    Narrativa superficial de 'A Rainha da Neve' descamba para o brega

    CAMILA HOLDEFER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    14/11/2015 02h23

    Barrett, um sujeito comum em busca de algumas respostas na vida, divide um apartamento em Nova York com o seu irmão, Tyler, um músico frustrado, e com a mulher do irmão, Beth, que luta contra um câncer.

    Toda a ação de "A Rainha da Neve", do escritor norte-americano Michael Cunningham, transcorre em um punhado de cenas –cada uma abrangendo poucas horas, em geral invernais– em que os personagens refletem sobre suas escolhas e chegam a algumas conclusões difíceis.

    O fio condutor da trama é o momento em que Barrett, caminhando pelo Central Park depois de ter levado um fora do namorado, enxerga uma luz incomum.

    Tocado pela beleza da aparição, ele acredita ter presenciado algo importante, ainda que não entenda o real significado por trás da visão. Barrett, é claro, supõe que a solução do enigma terá o poder de influenciar não só o próprio destino, mas o do destino do irmão e o da cunhada, ou dos amigos Liz e Andrew.

    Divulgação
    O escritor Michael Cunningham Crédito: Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O escritor Michael Cunningham, autor de "A Rainha da Neve"

    REMINISCÊNCIAS

    É o excesso de reminiscências, sem que haja de fato muita coisa acontecendo, que contribui para a impressão de uma narrativa estagnada – que, ao contrário das boas histórias reflexivas e pausadas, tem a desvantagem de matraquear um bocado de clichês.

    Pior do que um romance superficial, só um romance superficial que tenta parecer profundo. O gosto do escritor norte-americano por temas solenes acaba transparecendo no excesso de adjetivos e nas metáforas e comparações exageradas.

    Do início ao fim do livro, o que se vê é um autor lutando para encontrar uma frase de efeito. Consequentemente, o melodrama vem em doses maciças e, como costuma acontecer, não raro descamba para a cafonice.

    Com o encontro do lugar-comum com o piegas, só a habilidade de Cunningham para a percepção e a descrição da paisagem urbana se salva.

    É pouco. Se "Ao Anoitecer", o trabalho anterior do escritor, ainda pode ser considerado um romance razoável com suas reflexões sobre a arte, aqui o resultado deixa a desejar.

    Espere por uma reprise sentimentaloide dos temas recorrentes na ficção do norte-americano –como a família, a finitude, o amor romântico, a solidão, o casamento, o conceito de belo.

    Autor dos elogiados "Uma Casa no Fim do Mundo" e "As Horas" (este vencedor do Pulitzer), Cunningham aparentemente entrou em um recesso de autoindulgência.

    "A Rainha da Neve" é mais uma tentativa malograda de voltar à velha forma.

    A RAINHA DA NEVE

    AUTOR Michael Cunningham
    TRADUTOR Regina Lyra
    EDITORA Bertrand Brasil
    QUANTO R$ 35 (252 págs.)

    Edição impressa

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