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    Conheça cinco lugares imaginários e pouco conhecidos da literatura

    MAURÍCIO MEIRELES
    COLUNISTA DA FOLHA

    17/11/2015 11h58

    Herman Melville, autor de "Moby Dick", dizia que os lugares verdadeiros não estão nos mapas.

    Talvez por isso os lugares imaginários floresçam na literatura -muitas vezes como uma forma de chamar atenção do mundo real para si mesmo. Como no caso da Macondo, de Gabriel García Márquez, que espelhava a Colômbia do escritor, ou Yoknapatawpha, condado fictício criado por William Faulkner.

    É uma tradição que vem principalmente da literatura anglo-saxã, representada nas viagens de Gulliver ou na ilha de Robinson Crusoé. Também na ilha de Utopia, criada por Thomas Morus no século 16 como modelo de uma sociedade ideal, mas também fazendo piada da Europa de seu tempo.

    É uma lista sem fim, que vai do Castelo de Kafka ao Reino de Eldorado, passando pelo País das Maravilhas e Oz. Os escritores Alberto Manguel e Gianni Guadalupe, por exemplo, chegaram a compilar mil páginas de locais assim em seu "Dicionário de Lugares Imaginários", lançado pela Companhia das Letras e hoje esgotado.

    Alguns, porém, não ficaram tão famosos entre o público em geral. Abaixo, você confere uma lista de locais fictícios pouco conhecidos da literatura.

    Reprodução
    O escritor Luciano de Samósata
    O escritor Luciano de Samósata

    1. Ilha do Sonho

    É uma ilha que aparece tanto na "Eneida" (século 1º a.C.), de Virgílio, quanto na "História Verdadeira" (século 2 a.C.), de Luciano de Samósata. Fica no Oceano Atlântico e tem uma capital rodeada por uma floresta densa, com flores gigantes nas quais ficam pendurados morcegos.

    O rio Viajante Noturno brota de duas nascentes nas entradas da cidade. Os moradores, da tribo Sonhos, tem aparência bem diferente entre si: enquanto uns são altos e bonitos, outros são pequenos e feios.

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    Meccania, Estado distópico do livro "Meccania, The Super-State"

    2. Meccania

    Este é um Estado criado em 1918 em "Meccania, The Super-State", ficção distópica de Gregory Owen. É uma região não habitada, cercada por arame farpado, onde as plantas são queimadas todos os anos. Para cruzar a fronteira, é preciso comprar passagens com muita antecedência. Tudo em Meccania deve ser aprovado pelo estado, porque as pessoas não têm liberdade.

    Lá, as crianças aprendem que o Estado é pai e mãe de todos -que censura todas as cartas e ouve todas as conversas telefônicas. É um lugar dividido em sete classes, cada qual com seu uniforme, e a ascensão de alguém de uma para outra é possível, mas quase nunca acontece. Toda a arte produzida em Meccania é didática ou patriótica. Os poucos criminosos do lugar são deportados para colônias penais.

    Divulgação
    O escritor Norton Juster
    O escritor Norton Juster

    3. Dicionópolis

    Criada, em 1962, no livro "Tudo depende de como você vê as coisas" (Companhia das Letras), de Norton Juster, Dicionópolis é o lugar de onde vêm todas as palavras -que não só crescem em árvores, mas são vendidas no mercado da cidade. Dicionópolis é regida por uma monarquia constitucional, comandada pelo rei Azaz, criador de um conselho de ministros para garantir que todas as palavras à venda existem e têm significado.

    Entre os animais da fauna "dicionopolitana", está a abelha soletradora, que soletra palavras quando quer. Dicionópolis é inimiga de Digitópolis, de onde surgem todos os números.

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    Mapa do Lago da Grande Água, imagens do livro 'Dicionário de lugares imaginários', de Alberto Manguel
    Mapa do Lago da Grande Água, imagens do livro 'Dicionário de lugares imaginários', de Alberto Manguel

    4. Lago da Grande Água

    É um grande lago cheio de ilhas, com limites no Bosque Maléfico e no Castelo da Demanda. Sobre este, há várias lendas: umas dizem que os mortos passeiam pelo lugar; outras, que ele é habitado por demônios. Para visitar as ilhas, é preciso pegar um barco -que só pode ser usado depois que o visitante manchá-lo com o próprio sangue.

    São cinco ilhas no lago, como a Ilha da Geração Espontânea (onde as plantas nascem sem precisar ser cultivadas); a Ilha dos Novos e Velhos, habitada por crianças de 5 a 15 anos, que não envelhecem; e a Ilha das Rainhas, famosa pelo palácio, onde o rei, a rainha e a corte estão paralisados e, embora pareçam vivos, estão mortos.

    O lugar foi criado em "The Water of Wondrous Isles", publicado por William Morris em 1879.

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    Mapa do País das Fadas, imagens do livro 'Dicionário de lugares imaginários', de Alberto Manguel
    Mapa do País das Fadas, imagens do livro 'Dicionário de lugares imaginários', de Alberto Manguel

    5. País das Fadas

    A localização desse país muda sempre e ele só pode ser visitado por quem tenha uma razão para fazê-lo. Ele foi criado em "Phantastes" (1858), por George Macdonald. No livro, as frutas que crescem nas árvores têm formas diferentes do mundo real, mas são todos comestíveis. Os animais são dóceis e seu idioma pode ser compreendido pelos humanos.

    Há lugares curiosos, como a Casa do Ogro, uma cabana cujos armários guardam a sombra dos visitantes -e, se abertos, ela segue o turista por toda a viagem. Se o turista se hospedar no palácio de mármore branco, encontrará um quarto exatamente igual ao seu, arrumado por mãos invisíveis.

    O tempo passa diferente no País das Fadas. Assim, uma viagem de 21 dias parece durar 21 anos.

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