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Wednesday, 08-May-2024 20:06:31 -03CRÍTICA
'Mistress America' foge do lugar -comum, mas é esquecível
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA19/11/2015 02h23
Nem sempre a distinção entre o leve e o inconsistente se dá a ver como evidência imediata. Uma das vantagens de "Mistress America" é nos trazer essa questão.
Por um lado, Noah Baumbach nos apresenta Tracy (Lola Lyrke) e Brooke (Greta Gerwig). A primeira, uma estudante e candidata a escritora. A segunda, um pouco mais velha, uma garota que já deu cabeçadas em mais ou menos todos os setores e agora sonha em abrir um restaurante.
O que as une: a mãe de Tracy está de casamento marcado com o pai de Brooke.
O fato de a primeira ser novata e solitária em Nova York ajuda na aproximação. Ela passa a ser, assim, um tipo de aprendiz da cidade, acom- panhante das aventuras de Brooke e uma espécie de vampira, pronta a se apropriar da futura irmã para produzir suas histórias.
Sam Levy/Divulgação Greta Gerwig (esq.) e Lola Kirke em cena de "Mistress America" Estamos, até aqui, num cenário típico do cinema independente americano: figuras fora do espectro habitual; luta por encontros e realizações pessoais; decisões que revelam a fragilidade ou o infantilismo das personagens etc.
Isso ajuda o filme a sair do lugar-comum. A leveza triunfa, e é aparentemente esse o desafio que se impôs Baumbach. Se a primeira abordagem das personagens é firme, o que se segue é errático.
Daí por diante, personagens entrarão em cena apenas para cumprir uma função (ter ciúmes, por exemplo), não para existir; outros servem para dar carona e alimentar alguma esperança romântica.
Um momento interessante é aquele em que se revelam relações interpessoais caóticas, nas quais a solidez aparente das existências se desmonta.
Com efeito, o cinema independente tem o mérito de trazer à luz personagens diferentes da Hollywood tradicional: eles não precisam ser "vencedores" ou "perdedores". Simplesmente são. Isso os aproxima dos seres humanos de fora das telas.
A excessiva preocupação em se mostrar leve, no entanto, conduz à fragilidade: sequências irregulares, em que o acúmulo de acontecimentos, criados para tornar a história "interessante", a transforma num apanhado de curiosidades sobre a existência de duas jovens normais: Brooke e Tracy são personagens esquecíveis de um filme idem.
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