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    'Ele amava ver suas obras no cinema', diz filho de Nelson Rodrigues

    CAROL PRADO
    DE SÃO PAULO

    19/11/2015 17h55

    Foram muitos os que quiseram ver a vida pelo buraco da fechadura com os olhos de Nelson Rodrigues: só no cinema, 25 filmes já tentaram reproduzir o erotismo realista do anjo pornográfico.

    Se estivesse vivo, ele certamente se gabaria do número, diz o herdeiro Nelson Rodrigues Filho, produtor do último longa, "Ninguém Ama Ninguém (por Mais de Dois Anos)", que estreou nesta quinta (19).

    "Ele amava ver suas obras no cinema. Ia ás gravações e, depois, às salas para ver a reação do público. Passava nas bilheterias para perguntar sobre o desempenho dos filmes", conta.

    Em vida, Nelson viu cinco produções nascerem de suas histórias. "Nenhum autor conseguiu isso", dizia, orgulhoso.

    Uma vez, conta o filho, telefonou para Lucélia Santos às 2h da manhã para dizer: "Lucélia, você poderia ser uma costureira, uma dona de casa ou uma professora, mas você é uma atriz. Então mergulhe fundo."

    Naquele dia, ela filmaria a cena mais forte da segunda versão de "Bonitinha mas Ordinária" (1981), dirigida por Braz Chediak, em que Maria Cecília, sua personagem, é estuprada por cinco homens.

    ADAPTAÇÃO CRUA

    "Ninguém Ama Ninguém..." é a primeira adaptação para o cinema de cinco contos da série "A Vida como Ela É" —"Coroa de orquídeas", "Rainha de Sabá", "Despeito", "Infidelidade" e "Vendida".

    Os casais protagonistas, retratados em uma estrutura fragmentada, são formados por personagens típicos de Nelson: há a moça fogosa e infiel, o marido submisso, o "corno cego"... Estão no elenco Gabriela Duarte, Marcelo Faria, Ernani Moraes, Michel Melamed e Cristiane Rodrigues, neta de Nelson em sua estreia em filmes.

    Divulgação
    Créditos Divulgação Legenda: Cena do filme NINGUÉM AMA NINGUÉM POR MAIS DE DOIS ANOS ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cena de "Ninguém Ama Ninguém (por Mais de Dois Anos)

    "Se você nunca foi traído, é comédia. Se já foi, é drama", brinca o diretor Clovis Mello, que assina seu primeiro longa-metragem —após fazer carreira na publicidade. "Na obra de Nelson, há milhões de recortes possíveis. Escolhemos o do desamor."

    Diante da imensidão de filmes já produzidos com base na obra do dramaturgo, ele optou por uma adaptação mais crua. "Eu quis fazer um filme muito focado no que Nelson escreveu, não no que já foi filmado", diz.

    Segundo Mello, a ajuda de Nelsinho, como costuma ser chamado o filho do autor, além de mostrar a "essência do pensamento" de Nelson, foi essencial na curadoria dos contos. O herdeiro lembra que 'A Vida como Ela É' marcou a etapa de sua adolescência em que começou a se interessar por literatura.

    Além disso, "o velho adorava", ele diz. Nelson escreveu um conto da série por dia durante 11 anos.

    Quase 35 anos após sua morte, o 25º filme inspirado em seu universo prova mais uma vez o que costumava dizer por aí: "Sou um autor que não trapaceia. Por isso, minha obra persiste e será sempre atual."

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