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    Zé Celso revisita Oswald de Andrade no espetáculo 'Mistérios Gozosos'

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    21/11/2015 02h30

    Por trás dos tons de paródia que Oswald de Andrade (1890-1954) faz surgir em alguns de seus poemas e peças teatrais, o autor também procura deixar escapar o que um dia chamou de "sentimento órfico".

    Seria a percepção de algo mais assombroso sob a superfície das representações bufas de classe, como as que tingem "O Santeiro do Mangue", que o Teatro Oficina leva à cena pela segunda vez, sob o título "Mistérios Gozosos".

    Escrita durante 15 anos, a partir de 1935, a peça tem em seu centro um coro de prostitutas, oradoras míticas que habitam um mangue. Com as imagem delas, Oswald nos oferece seu olhar sobre ambientes das grandes cidades, o lado oculto e à margem das políticas de bases religiosas.

    Divulgação
    â€TeatRo Oficina, musical Misterios Gozosos, adaptacao de Ze Celso para o poema teatral O Santeiro do Mangue, de Oswald de Andrade. Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Luiz Felipe Lucas em 'Mistérios Gozosos', peça do Teatro Oficina

    A ele Zé Celso acrescenta novas figuras –policiais, rappers, bicheiros, turistas. São dezenas de atores (Mariana de Moraes, Denise Assunção, Camila Mota, Sylvia Prado, Sergio Siviero e outros), num baile carnavalesco que ocupa o interior do Oficina e arredores.

    A primeira versão de "Mistérios Gozosos" foi apresentada em 1994, primeiro nas ruas do centro paulistano, e depois, em 1995, no próprio Oficina, reerguido com projeto de Lina bo Bardi, no Bexiga.

    Zé Celso havia encenado "O Rei da Vela", de Oswald, em 1967, e desde então a ideia modernista de antropofagia –do Brasil que digere outras culturas– o acompanhava em tudo, como ainda o faz.

    A decisão de revisitar "Mistérios Gozosos", diz, não é "reprise", pois a peça "é tão rica que possibilita infinitas interpretações". A atual versão tem direção musical de Felipe Botelho e trilha original de Zé Celso, José Miguel Wisnik e "ala de compositores do Teatro Oficina Uzyna Uzona".

    O diretor do Oficina também baseia sua escolha na sensação de que "o mundo acabou, só que ninguém percebeu", ideia que atribui à Maria Gladys, musa do cinema marginal. O programa da peça cita o "ódio de classe, saído do armário desde que a direita perdeu raspando as eleições".

    A Folha pergunta se a retomada de "Mistérios Gozosos" seria uma resposta a um cenário cada vez mais conservador.

    O diretor recusa a ideia, por e-mail: "Tive a sorte de viver minha juventude e iniciação à arte do Teat(r)o após o suicídio político de Getúlio Vargas, que adiou para dez anos o golpe de 1964. E mesmo após os civis e militares golpistas no poder vivemos momentos nada conservadores, com o retorno à antropofagia na tropicália, em que me abasteço e crio alimentos sempre frescos, não em conserva, até hoje".

    Mas, depois, ele desfere o golpe. "O que acontece é que parte de medrosos da liberdade elegeu uma maioria de deputados gângsteres, que há um ano, em nome de Deus e da moral conservadora, praticam uma ditadura baixo clero burro, criando uma crise política no Brasil, que agrava nossa situação na crise mundial".

    MISTÉRIOS GOZOSOS
    QUANDO sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 25/1 (haverá sessões excepcionais; consulte o site www.teatroficina.com.br)
    ONDE Teatro Oficina; r. Jaceguai, 520, tel. (11) 3106-2818
    QUANTO R$ 5 a R$ 50
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

    Edição impressa

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