• Ilustrada

    Saturday, 18-May-2024 23:38:31 -03

    Duas exposições em São Paulo homenageiam gravurista Arthur Piza

    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    22/11/2015 02h30

    Neste fim de ano, duas exposições em São Paulo homenageiam o conjunto da obra do gravurista brasileiro Arthur Luiz Piza, 87.

    Na Estação Pinacoteca, até fevereiro o público poderá ver 137 gravuras do artista, feitas desde 1952. Na galeria Raquel Arnaud, a força da mostra está, segundo o próprio Piza, nas obras de sua juventude, produzidas antes de ele se mudar para Paris, em 1951, onde se radicou e mora até hoje com a mulher, Clélia, 84.

    "Sempre tive vontade de expor todos os meus trabalhos", ele conta à Folha, com uma voz baixa e rouca. Na Pinacoteca, enfim conseguiu –segundo ele, todos ou "quase todos, porque a memória falha", estão lá. Muito idoso, Piza se locomove com dificuldades, mas se anima ao falar de sua trajetória.

    "Eu comecei pintando, e era atraído por esse lado da gravura" diz. "Conhecia as de Goya e Rembrandt, e acho que, inconscientemente, tinha essa coisa de poder fazer [arte] para mais gente ver", Piza afirma sobre a possibilidade de reproduzir até 99 vezes cada gravura.

    Ele e Clélia, juntos há 66 anos, foram a Paris para estudar. "Você não tem ideia do que era o Brasil nessa época, minha filha", interpela ela, que foi jornalista e age, muitas vezes, como porta-voz de Piza –embora, em outras, quando ele a olha para confirmar a resposta, dê de ombros: "Isso é com você".

    Segundo Clélia, o mercado de arte no Brasil nos anos 1950 era muito restrito, principalmente o de gravuras.

    O casal ficou em Paris por um tempo. Quando eles pensavam em voltar ao país natal, "aconteceu o famoso [golpe de] 1964, e não seria a melhor hora", ele explica. Foram esticando, esticando, e já completam 54 anos na Cidade Luz.

    "Nós tínhamos muita liberdade [no ateliê de Johnny Friedlaender, onde estudou nos anos 1950, em Paris]", conta o artista paulista.

    Uma vez arriscou uma experiência: tentou prensar um arame em uma de suas gravuras. "Mas eu estraguei a prensa, e era difícil conseguir outra naquele tempo, mas mesmo assim ele não disse nada."

    Graças a essa liberdade, Piza acabou desenvolvendo muitos de seus trabalhos com arame. Mas não deixou de experimentar com outros materiais.

    No início, testou fazer obras colocando ácido sobre o cobre, o que criava gravuras surrealistas. Muito frequentes são as aparições de formas eróticas, que lembram vaginas, pênis e ânus.

    Mas o artista encontrou seu nicho depois, com as formas geométricas adotadas no fim dos anos 1950 e as texturas em relevo –que começou fazendo com um buril (ferramenta de aço cortante).

    "Foi assim que eu senti a beleza do meu sentido", diz e sorri. "Acho que é isso que me atrai na gravura."

    A GRAVURA DE ARTHUR LUIZ PIZA
    QUANDO ter. a dom., das 10h às 17h30; até 12/02
    ONDE Estação Pinacoteca, largo General Osório, 66, tel. (11) 3335-4990
    QUANTO R$6

    PIZA - 1947/2015
    QUANDO seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 12h às 16h; até 19/12
    ONDE Galeria Raquel Arnaud, r. Fidalga, 125, tel. (11) 3083-6322
    QUANTO grátis

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024