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    Semana na TV tem filmes de David Cronenberg, Peter Jackson e Iñarritu

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    23/11/2015 02h34

    Sim, o cinema de David Cronenberg ficou mais suave no século 21. Exigências do tempo. Mas ainda continua intrigante, como na história da garota que chega a Hollywood em busca de um mapa que a leve à casa das estrelas do cinema.

    Veremos, ao longo de "Mapas para as Estrelas" (2014, TC Premium, 22h), que o seu não será mero roteiro turístico. Ali estará seu irmão, um garoto prodígio, sua mãe, que zela pela carreira do menino, o pai, um terapeuta das estrelas, sem contar uma das clientes do pai, Havana, que sonha em fazer hoje o papel que fez sua mãe famosa nos anos 1960.

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    Julianne Moore, no filme "Maps to the Stars", ganhadora do Festival de Cannes 2014 - Crédito: Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Julianne Moore, no filme "Mapas para as Estrelas"

    Poderia ser uma sátira à gente de Hollywoodi. Mas o registro é bem outro: o da hereditariedade, dessa misteriosa passagem de dados de uma geração a outra. Talvez se possa encontrar aqui traços de "Scanners": o comando do corpo pela mente e um certo desregramento dessas mentes é que ordenam os acontecimentos.

    TERÇA-FEIRA (24)

    O "King Kong" (2005, Megapix, 19h10) de Peter Jackson foi bem mal-falado. E, no entanto, me interessou bem mais que seus vitoriosos "O Senhor dos Anéis". Em parte isso se deve à abertura, à intensidade com que o personagem de Jack Black, o cineasta, busca sua misteriosa locação.

    Existe ali uma paixão à altura dos primeiros anos do cinema, onde tudo era descoberta. E o que virá a seguir não nega essa abertura, apesar de alguns excessos. A bela desse amor impossível, Naomi Watts, está perfeitamente à altura de suas ilustres antecessoras, Fay Wray e Jessica Lange.

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    King Kong (2005)
    Cena de "King Kong"

    Para completar o dia de maneira um pouco mais clássica, há "A Ponte do Rio Kwai" (1957, TCM, 14h20), de David Lean. Para completá-lo no registro à brasileira, sem sair do registro da Segunda Guerra, há "Estrada 47" (2015, Canal Brasil, 22h), de Vicente Ferraz.

    QUARTA-FEIRA (25)

    Revisões empurram os filmes, não raro, para cima ou para baixo. "Os Amantes" (1957, TV5 Monde, 23h51) faz parte do ciclo dedicado a Louis Malle que o canal francês vem apresentando e está na primeira categoria.

    Não deixam de ser interessantes algumas cenas de saia justa entre maridos, mulheres e amantes. Mas, de modo geral, a ousadia, que foi a marca desse segundo longa de Malle.

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    Sandy cena do filme "Quando Eu Era Vivo"
    Sandy em cena do filme "Quando Eu Era Vivo"

    "Quando Eu Era Vivo" (2014, Canal Brasil, 2014) parece crescer e mostrar mais suas virtudes quando visto em TV. O sentido de atmosfera continua excelente, os atores (Fagundes e Marat Descartes) continuam ótimos, assim como os coadjuvantes; Sandy destoa menos do que na visão em cinema (sua maquiagem é menos visível aqui, entre outras).

    Talvez enfraqueça o filme, ainda, seu elo demoníaco _algo bem fora de nossa tradição. Pode até ser verdadeiro, só não é muito verossímil.

    QUINTA-FEIRA (26)

    Alguns deslocamentos. Ninguém é mais deslocado do que "Maria Antonieta" (2006, tbs, 22h35), quando vista por Sofia Coppola. Não é uma rainha: é uma garota indefesa, tirada de seu país (a Áustria) e da sua família para casar na França com Luís 16.

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    Kirsten Dunstcomo MariaAntonieta emfilme de 2006
    Kirsten Dunst em "Maria Antonieta", filme de 2006

    O fim de sua história é conhecido. Mas, aqui, ele importa mais em função desse deslocamento da garota. Sofia trabalha com sensibilidade sua trama, e podemos passar sobre aspectos duvidosos da história (tipo supostos problemas sexuais de Luís 16).

    Também deslocados são os rapazes de "Jamaica Abaixo de Zero" (1993, TCN, 22h). Afinal, jamaicanos e esportes de inverno não são coisas que andem, em princípio, juntas. Aqui, no entanto, eles vão batalhar muito para fazer seu bobsled por retas e curvas de um circuito em que o perigo maior que os espreita é o ridículo. Aqui, a comédia é que dá o tom.

    SEXTA-FEIRA (27)

    Depois de "Morte no Funeral" (FX, 20h55), Frank Oz só voltou a filmar em 2011, quatro anos depois, mesmo assim um episódio para TV. É o preço que pagam hoje os iconoclastas do cinema.

    E Oz não fez meia porção neste seu filme de 2007 em tudo se passa num funeral, ou antes: num funeral em que um segredo maior sobre o respeitável finado corre o risco de ser revelado.

    Mais respeitável, e não menos interessante, há de ser o documentário "Eles Filmaram a Guerra em Cores" (2000, Curta!, 23h30), de que hoje o canal exibe a primeira parte.

    No mesmo Curta!, outro documentário será exibido duas vezes. Trata-se de "Utopia e Barbária" (2009, Curta!, 20h10 e 0h30), em que Silvio Tendler passa em revista as utopias de igualdade e fraternidade que foram para o beleléu entre o final do século passado e o começo deste.

    SÁBADO (28)

    O horário é ingrato (2h30 da manhã). Mas vale a pena gravar para ver no dia seguinte este "Anjo Embriagado" (1948, Futura) de Akira Kurosawa.

    De certa forma é bem o retrato do Japão empobrecido do pós-guerra que o cineasta produz, ao fazer um gângster (Toshiro Mifune) procurar um médico (Takashi Shimura) que, à parte suas virtudes para tratar doentes, é famoso pelo hábito da bebida.

    O encontro de sujeitos tão diferentes abre ocasião para um diálogo estranho, não raro tenso, onde se afirma o humanismo de Kurosawa. É um desses belos momentos de Akira no começo de carreira.

    "Cruz e Souza, o Poeta do Desterro" (1998, Cultura, 0h) produz um retrato tenso do fim do século 19 literário, a partir do poeta simbolista negro e de sua rejeição pelo "establishment". Literário. Para o bem e para o mal, Sylvio Back, autor do filme, recusa as fórmulas tradicionais ao abordar o tema.

    DOMINGO (29)

    Qualquer um se identifica à questão formulada por Riggan (Michael Keaton) em "Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância" (2014, TC Pipoca, 20h), o recente ganhador de quatro Oscars, entre eles os de melhor filme e direção (Alejandro González Iñarritu).

    No entanto, o centro é o ator. É Michael Keaton, no caso: a estrela de Hollywood que deve fazer uma peça em Nova York para provar que é mais que uma "celebridade".

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    Créditos: Divulgação Legenda: Michael Keaton em "Birdman" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Michael Keaton em "Birdman"

    Talvez falte originalidade à proposta (e/ou uma dramaturgia que a renove). Talvez Iñarritu tenha decidido compensar essa falta com uma mise-em-scène pernóstica, que busca se sobrepor a ela com uma série de efeitos.

    O que não falta a "Birdman" são admiradores. Me pergunto se daqui a dez anos eles serão tão fiéis quanto os fãs de, digamos, "Os Vampiros de John Carpenter" (1998, MaxPrime, 10h35) ou do "Chinatown" (1974, TCM, 1h35) de Roman Polanski.

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