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    Casal transforma árvores e pedras de monastério em 'poesia multicolorida'

    BEATRIZ MONTESANTI
    DE SÃO PAULO

    24/11/2015 12h05

    De uma pedra fosca de meio metro de altura, a artista Danielle Noronha fez "poesia multicolorida". As cerca de 25 aquarelas que expõe a partir desta terça (24) na Galeria Mezanino são resultado de 22 dias observando o mineral, cravado no jardim de um monastério polonês do século 16.

    Ao lado de suas aquarelas, seu marido, o artista Mauricio Parra, exibe pinheiros e carvalhos do mesmo quintal, feitos em óleo sobre linho cru. Ambos os trabalhos fazem parte da exposição "Um verão em Marianowo", produzida durante uma residência artística na Polônia entre julho e agosto deste ano.

    As aquarelas de Danielle foram quase um acidente, criadas sobre retalhos de papéis que mantém sempre ao seu lado quando está trabalhando, para fazer testes de cor, conta a artista. E assim surgiram aos poucos seus "retalhos coloridos": um jogo de tonalidades diversas do mesmo objeto desbotado.

    Acostumado a produzir de seu ateliê em São Paulo, Parra por sua vez estranhou a primeira vista registrar paisagens. Percebeu aos poucos que a pintura de observação é, na verdade, um exercício de memória.

    "Quando você está pintando num ateliê, o objeto é relativamente domesticável, porque você pode controlar a luz, as cores que você tem, por exemplo", diz o artista. "Na paisagem as coisas vão se modificando. Quando você começa a pintura, o céu está de um jeito, quando você termina está de outro. O verde muda de tom."

    VULCÃO

    Divide o espaço da galeria com o casal outra mostra que teve sua origem na polônia. No caso, na filosofia, misturada a um pouco de física quântica.

    "Desconstruções em Tempos Líquidos", do austríaco Martin Brausewetter, dialoga diretamente com o trabalho do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, para quem a fluidez do mundo atual compõe uma "modernidade líquida".

    Brausewetter faz suas pinturas com têmpera de ovo produzida por ele mesmo com corante de linhaça, água e gema. Cada quadro tem diversas camadas, cavadas em partes com uma lâmina de barbear. O resultado são imagens foscas, que ora lembram lavas de vulcão, ora um iceberg flutuante.

    "Eu entro no corpo do quadro, na história das minhas ações", diz o artista sobre suas escavações nas camadas de tinta. "Essa parte mais escura é como um buraco que leva ao infinito", explica, apontando para uma mancha azul da prússia.

    "Acho que isso se relaciona com a situação da nossa contemporaneidade."

    UM VERÃO EM MARIANOWO E DESCONSTRUÇÕES EM TEMPOS LÍQUIDO
    QUANDO de terça a sexta, das 11h às 19h; até 23/12
    ONDE Galeria Mezanino, r. Cunha Gago, 208, tel. (11) 3436-6306
    QUANTO grátis

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