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    Poeta do Grajaú, mãe de Criolo faz vaquinha virtual para publicar livro

    BEATRIZ MONTESANTI
    DE SÃO PAULO

    25/11/2015 02h20

    "Por que vocês do lado de lá adoram favela?", questiona Maria Vilani, ao posar diante do amontoado de casas que esboçam o Grajaú –ela preferia dar destaque para o muro de grafites coloridos.

    A poeta cearense chegou a São Paulo moça e durante os mais de 30 anos em que vive na zona sul contribuiu para transformar a região em referência cultural da periferia.

    Aos 65, Maria coordena o Centro de Arte e Promoção Social do Grajaú (Caps), criado há 25 anos no quintal de sua casa com uma feira de artesanato. Hoje, o centro promove semanalmente cafés filosóficos, rodas de poesia e outros eventos culturais.

    Formada em filosofia e pós-graduada em semiótica, Maria é também professora em uma escola estadual da região e prepara seu segundo livro de poesia, "Penteando a Vida", feito exclusivamente por mulheres –dos textos à diagramação.

    O primeiro, "Varal", foi lançado pela Editora da Gente em 2012 na Festa Literária Internacional de Pernambuco.

    Karime Xavier - 14.out.2015/Folhapress
    SÃO PAULO / SÃO PAULO / BRASIL -14/10/2015 -16 :00h - Entrevista com a poeta Maria Vilani, mãe do rapper Criolo ( Foto: Karime Xavier / Folhapress). ***EXCLUSIVO***ILUSTRADA
    A poeta Maria Vilani, mãe do rapper Criolo

    No reduto de 25m² que o Caps ocupa no bairro, entre amigos, familiares e livros, Maria fala sobre sua inspiração. "Tirei a poesia da dor".

    Seu primeiro poema, conta, chegou ao papel após saber de um acidente em Fortaleza que matou uma família inteira, que conhecia de rua. "Escrever é uma semiose", diz, recorrendo ao termo da semiótica que designa a produção de significado. "É uma cura. Não chega a ser um prazer."

    Para viabilizar o novo livro, lançou uma campanha de financiamento coletivo na internet. Até agora, cerca de R$ 2.000 dos R$ 15 mil pedidos foram levantados.

    A exclusividade feminina no trabalho impediu que seu filho Kleber, mais conhecido como o rapper Criolo, fizesse o prefácio prometido para a mãe (o de "Varal" foi feito pelo primogênito, Clayton, também professor da rede estadual).

    Em compensação, as duas filhas debruçaram-se sobre 200 poemas de Maria para ajudá-la a selecionar os 70 que serão publicados –escritos ao longo dos últimos 20 anos.

    Altar do Universo

    GRAJAUEX

    Se Criolo foi responsável por convencer a mãe a voltar a estudar, quando ela tinha 39 anos (fizeram o ensino médio juntos), Maria foi responsável por tornar o filho artista, enchendo a casa de referências culturais.

    "Minha mãe é a luz dos meus olhos. Não só pela beleza da maternidade, mas também por ser um exemplo de vida", diz o rapper.

    Dos cinco filhos de Maria, Criolo foi o único a deixar a casa da mãe para morar na região central da cidade –exigência do trabalho. Hoje, diz, passa mais tempo no Grajaú (seu Grajauex) do que quando morava com os pais. "Antes você saía para procurar emprego, não ficava por lá", conta.

    Tampouco Maria cogita deixar o bairro que ajudou a transformar.

    "Quando cheguei a São Paulo, morei de aluguel num cortiço, eram seis casas e um banheiro. Aí fui morar num porão em Chácara Santana, o banheiro era da casa de cima. Já tinha um filho e tava grávida do outro. Aí você compra uma casinha de alvenaria e vai sair?"

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