No país da "Dança do Créu", não é lá muito difícil cantar versos como "habitar você é meu plano A" sobre uma batida sensual de Miami bass –gênero que deu origem ao funk carioca– sem corar ou temer a ira divina. Isso, claro, se você não teve uma criação super-religiosa.
Silva, nome artístico do capixaba Lúcio Silva, 27, cresceu em uma família protestante com tradição na música erudita, é formado em violino clássico e passou por grupos de música gospel.
Por tudo isso, chegar ao terceiro álbum, "Júpiter" –os versos citados estão na faixa "Deixa Eu te Falar"–, com a intenção de ser o mais terreno possível é, sim, um exercício de liberdade.
| Diego Padgurschi/Folhapress | ||
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| Silva posa no apartamento do rapper Don L, no centro de SP |
"Não tinha coragem de fazer uma música que tivesse conotação sexual", conta ele, que deixou de frequentar a igreja aos 18, mas ainda guardava a timidez. "Amigos meus brincam que 'Claridão' (2012) é um disco assexuado, 'Vista pro Mar' (2014) melhorou um pouco, e este terceiro"¦", deixa a frase em aberto para dar uma risada.
PASÁRGADA
No álbum, de letras ultrarromânticas, Júpiter é a sua Pasárgada, um lugar para fugir dos problemas da Terra. A sonoridade também busca o sossego: música eletrônica com batidas dosadas de R&B, gênero que não dominava os discos anteriores.
"Minha maturidade musical caminha para o minimalismo. Isso tem a ver com o nosso tempo, acho. A cidade é barulhenta, já é tudo muito barulhento", diz ele, que cogita, mas ainda não topou trocar Vitória por São Paulo.
Lá fora se escuta alto o trânsito do centro paulistano no apartamento do rapper Don L, que lhe oferece o pouso. Com o cearense e Lulu Santos, Silva lançou o single "Noite" em junho deste ano.
"A música que quero fazer não pode ser mais um estímulo de ansiedade. O que mais gosto de ouvir hoje é pop bem minimalista, como o do [rapper canadense] Drake".
Nesse esforço, até "Marina", de Caymmi, única das onze faixas que não é assinada por Silva com o irmão, Lucas, ganhou esse toque.
| Diego Padgurschi/Folhapress | ||
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| Retrato de Silva, que lança o terceiro disco da carreira |
Mudar foi a palavra de ordem no novo disco, mas, no que dependesse do desempenho até então, nem precisaria. Além de Lulu Santos, Silva já caiu nas graças de gente grande como Marisa Monte.
Cinco emojis de estrelas ("figurinhas" de mensagem no celular) são a resposta de Lulu, em entrevista por e-mail, para o que achou de "Júpiter". "Silva é a soma de todo o 'braspop' e mais quejandos", elogia, propondo a hashtag #SóSilvaSalva.
Já com Marisa houve aproximação quando lhe mostrou ensaios de um show especial só com o repertório dela.
"A partir daí começamos a trocar mensagens. Pouco tempo depois, nos encontramos aqui no Rio e a afinidade foi fácil e natural", lembra ela. Da visita, nasceram duas letras em parceria, ainda sem previsão de lançamento.