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    Precursor do nonsense na literatura, 'Alice' de Lewis Carroll faz 150 anos

    BEATRIZ MONTESANTI
    DE SÃO PAULO

    26/11/2015 02h20

    Considerado o primeiro livro infantil sem moral, símbolo da curiosidade e do anarquismo pueril e precursor da literatura nonsense, "Alice no País das Maravilhas", do inglês Lewis Carroll, completa nesta quinta (28) 150 anos desde sua publicação. A obra ganha quatro edições comemorativas no Brasil.

    A saga da ingênua menina que se perde em um mundo subterrâneo de fantasias –onde encontra poções mágicas que alteram o tamanho, um gato risonho, uma lagarta fumante e a Rainha de Copas– teve início num passeio de barco na Oxford de 1862.

    Na embarcação, iam Charles Lutwidge Dodgson, gago e recatado professor de matemática da Christ College, e as três filhas do então reitor da universidade, Henry Liddell. A irmã do meio, então com 10 anos, era Alice.

    A pedido dela, Dodgson redigiu uma fábula criada a esmo no rio. Presenteou-a com o manuscrito "As Aventuras de Alice Embaixo da Terra".

    Três anos depois, o autor publicaria a criação sob o título "Alice no País das Maravilhas" e o pseudônimo de Lewis Carroll, com ilustrações de John Tenniel (1820-1914). Em 1871, veio a sequência "Alice Através do Espelho".

    Reprodução
    ORG XMIT: 495701_0.tif Ilustração do País das Maravilhas, sob a Inglaterra, o reino está em "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carrol. (Reprodução)
    País das Maravilhas: está no mapa do 'Dicionário de Lugares Imaginários', da Companhia das Letras (esgotado) e da portuguesa Tinta da China (importado, R$ 164,20 na Livraria Cultura)

    Com o livro, Carroll subverteu o sistema educacional vitoriano, como explica a historiadora Dimitra Fimi em artigo publicado no site "The Conversation". "Ele fez com que o humor e a paródia se tornassem ingredientes indispensáveis da literatura infantil."

    Para alguns, Carroll não foi apenas pioneiro de um estilo literário, mas praticamente um precursor da física quântica, do cubismo, do surrealismo e da expansão psicodélica da consciência.

    A descrição, mais ousada, é usada pela artista visual Adriana Peliano para destacar a importância da obra sobre a qual se debruça desde o início dos anos 1990.

    Ela cita à Folha o intelectual canadense Marshall McLuhan, para quem Carroll preconizou a relatividade de Einstein ao subverter as noções de tempo e espaço.

    Em 2009, após retornar de uma viagem à Inglaterra, Peliano criou a Sociedade Lewis Carroll do Brasil, que teve entre seus colaboradores o historiador Nicolau Sevcenko (1952-2014) –responsável pela mais recente tradução do livro para o português.

    Uma das integrantes da sociedade, a também artista Beatriz Mon promove em Belo Horizonte, todo 4 de julho –data do histórico passeio de barco–, o Carrolls Day: dia de atividades lúdicas, como um sarau de poesia nonsense, um jogo de xadrez com peças de proporções humanas e uma festa do chá realizada sobre uma mesa comestível (feita de massa de pastel).

    O feito de Carroll, porém, é também ponto de polêmicas envolvendo suspeitas de pedofilia –o que nunca foi provado– e acusações de fazer alusão ao consumo de drogas.

    Sobre as possíveis interpretações para "Alice", Peliano responde reproduzindo uma famosa fala do Gato que Ri: "O caminho a seguir depende de onde você quer chegar".

    EDIÇÕES ESPECIAIS
    Quatro lançamentos feitos por ocasião dos 150 anos

    Cosac Naify (R$ 139,90)
    Caixa traz os dois livros. O primeiro, com a tradução de Nicolau Sevcenko e ilustração de Luiz Zerbini, publicada primeiramente em 2009. Já "Através do Espelho" tem tradução e ilustração inéditas de Alexandre Barbosa de Souza e Rosângela Rennó, respectivamente.

    Editora 34 (R$ 69)
    Tradução do poeta pernambucano Sebastião Uchoa Leite (1935-2003), publicada pela primeira vez na década de 1970. A edição traz também diversos poemas traduzidos por Augusto de Campos e as 92 ilustrações originais de John Tenniel.

    Zahar (R$ 79,90)
    Edição limitada reúne as duas obras em um volume, com tradução de Maria Luiza X. de A. Borges —que levou um Jabuti em 2010 pelo trabalho. As ilustrações são de Adriana Peliano, fundadora da Sociedade Lewis Carroll do Brasil, feitas de colagens sobre os originais de Tenniel.

    Scipione (R$ 53)
    Réplica de manuscrito dado por Carroll a Alice Liddel em 1862, incluindo a reprodução das ilustrações feitas por ele mesmo. O trabalho também foi feito por Peliano.

    Edição impressa

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