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    CRÍTICA

    'Para o Outro Lado' tem potencial emotivo, mas peca por direção fria

    SÉRGIO ALPENDRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    26/11/2015 02h35

    Com "Para o Outro Lado", o espectador verdadeiramente antenado pode ter, simultaneamente, sentimentos contraditórios.

    Por acompanhar o circuito com certo afinco, sabe que deve saudar um raro filme que não menospreza sua inteligência, fornecendo emoção e reflexão em boa medida.

    Por saber que Kiyoshi Kurosawa, de obras fenomenais como "Cura" (1997), "Pulse" (2000) e "Sonata de Tóquio" (2008), é o maior cineasta em atividade no Japão, entende que poderia esperar mais deste seu novo trabalho.

    E, ainda assim, é inevitável observar que estamos diante de um filme incomum, tanto por suas virtudes quanto por seus problemas.

    Divulgação
    Créditos: Divulgação Legenda: Cena do filme "Para o Outro Lado" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Yusuke (Tadanobu Asano) e Mizuki (Eri Fukatsu) no longa japonês 'Para o Outro Lado'

    "Para o Outro Lado" é baseado em romance da escritora Kazumi Yumoto e foi vencedor do prêmio de direção da mostra Um Certo Olhar, do último Festival de Cannes. É desconcertante, em mais de uma maneira.

    Yusuke (Tadanobu Asano), marido de Mizuki (Eri Fukatsu), morreu afogado no mar, há três anos. Somente agora ele retorna ao lar para rever Mizuki. Ele a convida para conhecer o lugar onde ele vive agora, como gasta suas energias e com quem se relaciona.

    É um novo mundo que se abre para Mizuki. Mas esse mundo não seria dos mortos? Ao que tudo indica, sim. No entanto, não parecem mortos os que vemos lá. E esse mundo também não se parece com o além. O que estamos vendo, afinal?

    No cinema do grande Kiyoshi Kurosawa (que não tem parentesco algum com o mestre Akira), vivos e mortos costumam dividir as narrativas. Mas normalmente a fronteira entre um e outro é mais clara.

    Aqui, não se distingue. Os mortos por vezes podem ser chamados pela emoção, como na melhor cena do filme, que envolve uma melodia tocada ao piano. Ou simplesmente aparecer quando têm vontade.

    Mas há um senão a se fazer: a direção é um tanto fria, monótona em parte. Alguns poderiam dizer que o diretor está caminhando em terreno seguro, como poucas vezes em sua carreira. É verdade. Seguro demais, talvez.

    O filme parece ter um ritmo que corresponde ao cotidiano dos mortos ou daqueles que perderam entes queridos. O ritmo do além, possivelmente, segundo a visão do diretor. Não chega a ser enfadonho, mas por vezes soa fácil, calculado para agradar plateias sensíveis do circuito de arte.

    Isso nos afasta um pouco do enorme potencial emotivo causado por algumas sequências, sobretudo quando vemos de modo palpável nos personagens o medo da despedida ou a necessidade de afastamento.

    PARA O OUTRO LADO (Kishibe no Tabi)
    DIREÇÃO Kiyoshi Kurosawa
    ELENCO Eri Fukatsu, Tadanobu Asano, Yû Aoi
    PRODUÇÃO Japão/França, 2015, classificação não informada
    QUANDO estreia nesta quinta (26)

    Edição impressa

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