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    CRÍTICA

    Inhotim é lugar adequado para obra sensível como a de Andujar

    FABIO CYPRIANO
    CRÍTICO DA FOLHA

    28/11/2015 02h09

    William Gomes/Divulgação
    A fotografa suica radicada no Brasil Claudia Andujar posa para foto no pavilhao dedicado a sua obra no Inhotim. Foto: William Gomes/Divulgacao. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A fotógrafa Claudia Andujar posa para foto no pavilhão dedicado á sua obra em Inhotim

    O novo pavilhão permanente de Inhotim, dedicado a Claudia Andujar, faz justiça a um dos gestos mais radicais e consequentes na história da arte.

    Mais do que registro de uma cultura como a dos índios ianomâmis, as fotografias de Andujar são manifestos em defesa de uma causa.

    Nos últimos 50 anos, a artista dedicou sua vida à tribo, sendo uma das figuras essenciais na criação do Parque Yanomami, em 1991, com área de 96 mil km², no norte dos Estados de Roraima e Amazonas. Já foi dito que esta é a maior obra de "land art" da história.

    Esse comprometimento ético poderia ser colocado em risco, caso Inhotim criasse um pavilhão espetaculoso, que descontextualizasse a obra de sua motivação. Não é o caso. Apesar de ser o segundo em tamanho do local, o prédio está inserido de tal forma na floresta que mal é visto de longe. As paredes em tijolo aparente lembram cestas trançadas e o corredor que dá acesso ao espaço é discreto.

    A importância da relação com a natureza, uma das marcas fundamentais da cultura ianomâmi, abre o percurso da mostra, organizada pelo curador Rodrigo Moura.

    A primeira sala apresenta sérias de Andujar realizadas nos anos 1970, com vistas de pequenos detalhes, como uma flor em um igarapé. Mesmo ao retratar a natureza, a artista se volta a marcas particulares.

    Em seguida, o pavilhão apresenta retratos de índios, assim como imagens de cenas de seus rituais, todas criadas em uma relação de visível cumplicidade e respeito.

    A mostra se encerra com a temática do confronto, a partir de duas séries: "Marcados", realizada entre 1981 e 1983, composta por retratos de índios que necessitavam de identificação para tratamento de saúde; e a mais recente, "Toototobi", comissionada por Inhotim, de 2010, realizada durante uma assembleia dos ianomâmis.

    Enquanto na primeira os corpos dos índios surgem frágeis e vulneráveis, na nova, o aspecto autoafirmativo predomina, uma prova da importância de Andujar na região.

    O pavilhão ainda apresenta desenhos dos próprios índios, que fazem parte do livro "Mitopoemas Yanomamis" (1978), além de publicações como a revista "Realidade" (1971), dedicada a Amazônia, que dá início ao envolvimento de Andujar com a causa, até livros mais recentes, usados como denúncia, caso de "Genocídio do Yanomami: Morte do Brasil", de 1989.

    As imagens da mostra não são apenas fotografias de qualidade indiscutível, mas representam um raro compromisso humano e social, que tem na arte apenas um de seus aspectos. Inhotim é o local adequado para projeto tão sensível.

    CLAUDIA ANDUJAR
    QUANDO de ter. a sex., das 9h30 às 16h30; sáb., dom. e feriados, das 9h30 às 17h30
    ONDE Inhotim, r. B, 20, Brumadinho (MG), tel. (31) 3194-7300
    QUANTO qua., grátis; ter. e qui., R$ 25; sex., sáb., dom. e feriados, R$ 40

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