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    Aos 80, Boni conversa com amigos mortos em primeiro livro de ficção

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    29/11/2015 02h55

    Boni, como ficou conhecido José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, é ateu. Se acreditasse em vida após a morte, porém, o paraíso seria algo parecido com um desfile de escola na samba no Carnaval.

    Pela "avenida" do ex-vice-presidente de operações da TV Globo, todo poderoso da emissora por mais de 30 anos, desfilariam personalidades como Roberto Marinho, Chacrinha, Dercy Gonçalves, Janete Clair, Ayrton Senna, Chico Anysio.

    Em resumo, são grandes amigos com quem Boni busca acertar as contas no livro "Unidos de Outro Mundo", que lança no início de dezembro.

    Escrito em dois meses, o título reúne uma coleção de diálogos em reencontros, ao percorrer os capítulos como quem atravessa um bloco de Carnaval. Houve tempo de incluir o diretor Carlos Manga, que morreu em setembro, e Luiz Carlos Miele e Yoná Magalhães, que partiram em outubro.

    Moacyr Lopes Junior/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL. 26.11.2015. O empresario de TV, Boni ao comentar seu novo livro de ficcao, posa em sua casa. (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress, ILUSTRADA). ***EXCLUSIVO***
    José Bonifácio de Oliveira Sobrino em seu apartamento em SP

    "Perdi meus companheiros, dá saudade. Fiquei com vontade de encontrar com eles e, como eles não podem vir para cá, eu fui para lá", diz o autor. Para tanto, ele mata a si mesmo, na ficção, em um acidente de carro.

    Do lado de cá, no entanto, Boni segue vivinho da Silva e recebe a reportagem em sua cobertura duplex nos Jardins, bairro nobre paulistano.

    Preparava-se para começar, a série de comemorações de seus 80 anos, a se cumprirem na segunda-feira (30). "Quero tomar um vinhozinho hoje", planejava.

    Sentado com a coluna ereta em um amplo sofá de couro, ele conta que a vocação literária, iniciada com a autobiografia "O Livro do Boni" (2011), deve se estender a um romance policial sobre um publicitário. Também tem conversado com a apresentadora Ana Maria Braga sobre um potencial livro de receitas.

    Fora da Globo desde 1997, ele comanda desde 2003 a TV Vanguarda –transmissora do canal dos Marinho no Vale do Paraíba.

    DIALOGANDO NO ALÉM

    Em "Unidos de Outro Mundo" ele quis esclarecer desentendimentos, como os que teve com Walter Clark, com quem ditou os parâmetros que a Globo equilibra jornalismo, produção e entretenimento até hoje.

    Ele dá sua versão para a saída de Walter Clark (1936-1997) da emissora nos anos 1970, que aconteceu após um desentendimento envolvendo o contrato com uma afiliada no Paraná.

    No livro, o autor relata que Roberto Marinho "preferia perder a Globo" a ficar com Clark. Já Clark encerra o papo na ficção dizendo "não haver, no mundo, melhor produtor de televisão" do que Boni.

    Ele aproveita os encontros para dar seus pitacos na programação: em conversa com a novelista Janete Clair, critica a falta de boas histórias e o excesso de violência das novelas contemporâneas.

    "O público sente quando estão querendo pegar pela violência, pelo sexo", diz Boni, à Folha.

    Ele alude ao caso de "Babilônia", que exibiu um beijo entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg no primeiro episódio, em março. "Duas velhinhas se beijando no primeiro capítulo é apelação. Feito no 10º, é ansiedade do publico. Ele tem que saber as razões psicológicas para aquilo acontecer."

    UNIDOS DO OUTRO MUNDO
    AUTOR Boni
    EDITORA Estação Brasil
    QUANTO 288 págs. (R$ 39,90)

    Edição impressa

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