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    No filme 'Califórnia', rock e sombra da Aids conduzem geração dos anos 1980

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    02/12/2015 02h01

    "Califórnia", de Marina Person, é um filme sobre adolescentes ambientado na década que levou os adolescentes para os filmes: os anos 1980.

    Marina leva um tanto da pegada de "Clube dos Cinco" (1985), de John Hughes, e "Vidas sem Rumo" (1983), de Francis Ford Coppola, para a São Paulo de 1984: de jovens que torravam a mesada para ver videoclipes no Carbono 14, enquanto as Diretas Já enchiam as ruas do lado fora.

    E de uma geração que descobriu o sexo enquanto a Aids -"a peste do amor", como algumas publicações estampavam na capa- fazia suas primeiras vítimas.

    Aline Arruda/Divulgação
    Maro de 2014.- SP Still do longa " California", de Marina Person Fotos: Aline Arruda ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Caio Harowicz vive JM, e Clara Gallo faz Estela, dois adolescentes dos anos 1980 no filme 'Califórnia', de Marina Person

    "Mais do que sobre adolescência, eu queria fazer um filme sobre a minha geração, que nunca transou sem pensar na Aids", afirma ela, que tinha 15 anos na época em que ambientou o filme, sua segunda incursão na direção de um longa.

    A trama acompanha o amadurecimento de Estela (Clara Gallo), adolescente paulistana fã de David Bowie e dona de camisetas largonas, na iminência dos primeiros passos da vida sexual.

    O ombro amigo da garota é o jovem tio, Carlos (Caio Blat), farol pop que abastece a sobrinha com fitas cassete. Um dia, ele volta da Califórnia, onde vive. Está magro. Contraiu o vírus.

    Na escola, as atenções de Estela estão em Xande (Giovanni Gallo), o garoto popular, mas passam a dividir o foco com o novato e esquisitão JM (Caio Horowicz), adolescente de cabelo bagunçado à lá Robert Smith, do The Cure.

    ELENCO DOS ANOS 1990

    "A música era um ponto de conexão para nossa geração", diz Marina, ex-VJ da MTV.

    Ela entupiu seu elenco juvenil, nascido nos anos 1990, de rock nacional e pós-punk inglês. "Tive que mostrar aos atores que The Cure ia além da música 'Boys Don't Cry'."

    Clara Gallo, em seu primeiro trabalho como atriz, afirma que se embananou para mexer no gravador usado por sua personagem para gravar fitas para o tio na América.

    Horowicz conta que recebeu uma "listinha de bandas obrigatórias" da diretora. "Dava para entender mais ou menos o comportamento e o estilo dos caras que o JM admirava e imaginar o que eu poderia levar pra ele", afirma o ator de 19 anos.

    Marina Person penou para rechear seu longa com alguns de seus ídolos musicais (leia quadro). No total, gastou cerca de R$ 300 mil nas 15 músicas da trilha sonora.

    Também sofreu com as locações: a PUC-SP, que serviria de cenário para a escola, vetou sua utilização para as filmagens na última hora.

    "Parece que homossexualidade e Aids ainda são temas tabu", diz a diretora.

    À Folha, em abril do ano passado, o pró-reitor da PUC afirmou que o veto foi fruto de um "mal entendido" e que não houve qualquer censura quanto ao tema do filme.

    "Califórnia" acabou sendo rodado no Colégio Santa Cruz, na zona oeste de São Paulo.

    CAÇANDO AS CANÇÕES
    As histórias de uma ex-VJ para montar a trilha sonora de "Califórnia"

    The Cure
    Temendo uma referência xenofóbica, Robert Smith negou 'Killing an Arab' (matando um árabe), de 1978. A música é inspirada no livro 'O Estrangeiro' (1942), de Albert Camus, e Smith só a liberou quando Marina contou ao agente que leu a obra após ouvir a canção. 'Caterpillar' (1984) também toca

    David Bowie
    Marina tentou trazer 'Five Years' (1972), mas um dos escritórios do cantor negou. Em busca de Bowie, apelou para André Sturm, que fez uma exposição dele no MIS, para André Frateschi, que faz covers do inglês, e até para o pianista Mike Garson, que tocou com o músico. No fim, o escritório acabou liberando

    New Order + Joy Division
    Marina diz que foram tranquilas, 'mas demoradas', as negociações para trazer 'Transmission' (1979), do Joy Division, além de 'Temptation' (1982) e 'Ceremony' (1981), ambas do New Order, grupo inglês formado pelos remanescentes da primeira banda

    Rock Brasileiro
    O som do rock brasileiro dos anos 1980 predomina. Nas festas, se toca Titãs, Blitz e Metrô; na escola, Paralamas do Sucesso. E, num luau, Lulu Santos, é claro: 'Garota, eu vou pra Califórnia/ Viver a vida sobre as ondas (...)'. 'Das músicas brasileiras eu sabia o caminho', afirma Marina, ex-VJ da MTV

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