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    CRÍTICA

    Jolie acerta e consegue emular filmes europeus da década de 1970

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    03/12/2015 02h15

    Ela é linda. Ele é lindo. O carro deles é irresistível –um conversível prateado compacto. O lugar onde eles estão é maravilhoso –uma vila costeira na França, nos anos 1970. O hotel é deslumbrante, assim como o restaurante e a mercearia que frequentam. E o jovem casal do quarto vizinho, importante na trama, também é lindo.

    Mesmo belo desse jeito, "À Beira-Mar" é sombrio, denso, um tanto pervertido, com o foco em um casal levando sua amarga discussão da relação a flertar com a tragédia.

    Mais do que isso, é prova de que a diretora e roteirista Angelina Jolie acrescentando o sobrenome Pitt nos créditos da produção– melhora a cada empreitada.

    "À Beira-Mar" apresenta um cuidado extremo para captar detalhes visuais que simbolizam a crise do casal protagonista, como suas posições na cama ao dormir e as trocas de olhares em público. Os diálogos são curtos, limitados ao essencial para conduzir a trama. E a beleza do litoral se presta a muitas tomadas inebriantes.

    A sensação é a de penetrar em um romance francês existencialista dos anos 1950. Algo de "Bom Dia, Tristeza", de Françoise Sagan (1935-2004), de gente sem rumo sob o sol do Mediterrâneo.

    Jolie interpreta Vanessa, uma ex-dançarina. Brad Pitt, marido fora e dentro da tela, é Roland, um escritor com bloqueio, buscando numa viagem ao litoral da França a inspiração para um novo e já muito adiado romance.

    Logo o espectador percebe que a crise criativa do marido não é nada comparada à profunda depressão de Vanessa. Enquanto ele passeia pelo lugar e começa amizade com o dono do restaurante local, ela se refugia no quarto do hotel, numa constante e plácida contemplação do mar da sacada do apartamento.

    Seu recolhimento só é quebrado quando um jovem casal em lua de mel se hospeda no quarto ao lado. Por um buraco na parede, ela passa a observar os vizinhos fazendo sexo e resolve trazê-los para junto dela e do marido, numa espiral de perversão da qual Roland participa alternando entusiasmo e relutância.

    O desfecho da história, que remete à origem da confusão mental de Vanessa, é fraco, não está à altura da construção dramática do roteiro. Mas essa pequena decepção não compromete um ótimo filme.

    O resgate dos anos 1970 não está apenas na reconstituição visual de época. Jolie consegue imprimir ao longa a atmosfera de filmes europeus desse período.

    O ritmo é lento, a luz da fotografia é graciosamente natural, os close-ups aparecem na medida certa. Tudo bem amarrado pela música de Gabriel Yared, que emula boas trilhas sonoras setentistas.

    O filme teve uma bilheteria inicial pífia nos Estados Unidos, já esboçando ser um dos fiascos da temporada.

    Nem poderia ser diferente. "À Beira-Mar" não é nada voraz, veloz ou furioso. Seu público-alvo provavelmente ficou na década de 1970, quando dramas existenciais lentos e complexos tinham seu merecido lugar nos cinemas.

    À BEIRA-MAR (By the Sea)
    DIREÇÃO Angelina Jolie Pitt
    ELENCO Brad Pitt, Angelina Jolie Pitt, Mélaine Laurent
    PRODUÇÃO EUA, 2015, 12 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (3)

    Edição impressa

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